por Enéas Rodrigues
TI e ESG podem parecer incompatíveis em um primeiro momento, mas é preciso ir além da superfície e entender que a Tecnologia da Informação pode fazer muito pela gestão ambiental, social e de governança (do inglês, Environmental Social and Governance).
Os pilares da TI são aceleradores para a implementação de ações relacionadas às dimensões do ESG, e seus líderes não podem deixar de atuar de forma proativa nas discussões sobre esse tema estratégico.
Não quero cair na armadilha de prescrever soluções, como tenho lido em diversos artigos, porque quase tudo que propõe resolver problemas complexos com soluções simples ou fórmulas costuma ser uma armadilha. Porém, podemos falar sobre as oportunidades e os benefícios que as empresas já recebem, ou poderão vir a receber, trazendo o ESG para dentro da pauta da TI.
A governança é parte do tripé que forma o ESG. Portanto, sistemas que regulam e gerenciam os processos e evitam fraudes (ERPs) têm tudo a ver com essa agenda. Também podemos incluir nesse rol as soluções que gerenciam a cadeia produtiva e regulam relações dos fornecedores com seus empregados, monitorando questões sociais de extrema relevância, como a possível existência de trabalho análogo à escravidão (PLM).
Do ponto de vista ambiental, podemos ainda pensar em sistemas que avaliam os processos de fabricação em busca da otimização de materiais e do consumo energético e de água potável (EPM).
É papel da TI exercer governança sobre os perfis de acesso aos sistemas e aos ambientes, bem como controlar e gerir o acesso às informações estratégicas, a disponibilização de sistemas para ambientes remotos, e também o controle sobre dispositivos móveis. Qualquer pessoa minimamente conectada à realidade percebe imediatamente o quanto esse papel é crucial hoje.
Já é de domínio público uma série de KPIs necessários para aferir o desempenho das empresas nos aspectos estratégicos relacionados à ESG. A capacidade da TI de gerar esses KPIs por meio de seus bancos de dados está diretamente conectada ao desempenho que a empresa terá para atingir suas metas sociais, ambientais e de governança.
Se a TI pode favorecer o sucesso de uma agenda ESG na empresa, o contrário também é verdade: as estratégias de ESG podem acelerar o processo de inovação tecnológica das instituições. Para isso, a TI precisará estar estruturada para receber as demandas por projetos relacionados à inovação.
Nesse caso, “estruturada” significa ter domínio sobre algumas tecnologias. Especificamente:
Como já deu para perceber, são muitas as possíveis demandas e oportunidades na relação entre TI e ESG, cada uma com características próprias, e também com metas e objetivos particulares. E quem está inserido no ambiente corporativo sabe que todas são “urgentes” – pelo menos aos olhos dos demandantes.
Para saber por onde começar a atuar, é preciso escolher prioridades, estabelecendo um planejamento que garanta os resultados necessários para o crescimento e sustentação do negócio.
Não é uma tarefa fácil ou banal: esse planejamento exige compreensão profunda dos objetivos e da cultura da empresa, porque só boas intenções ou boas ideias não bastam na hora de desenhar esse plano de ação. É preciso levar em conta as variáveis que surgem do comportamento das pessoas dentro da empresa e observar como elas dialogam com a visão estratégica de médio e longo prazo da organização. Caso isso não seja feito, será apenas mais um planejamento “bonito”, que não acontece na realidade.
Nesse ponto, a TI precisará também estar organizada e preparada para discutir a priorização dos projetos e iniciativas e, também, estruturada para agir rapidamente e com qualidade, por meio de comitês que integrem a própria TI, as áreas de negócio e consultorias especializadas.
Trabalhoso? Sem dúvida. Mas precisamos parar de dar ouvidos às fórmulas, que fazem crer que crescimento da empresa e atingimento dos objetivos acontecem se seguirmos passos “mágicos”. Quando falamos de ESG, estamos falando de políticas que trazem benefícios a longo prazo. E isso não se constrói com pouco empenho.
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