arquitetura de sistemas, TI e negócios, CIO, integração de sistemas

A hora de falar de arquitetura de sistemas é agora. Sempre

Mesmo tendo impacto direto no negócio, a arquitetura de sistemas é deixada de lado pela empresa e, às vezes, até pela TI. Ricardo Stucchi reflete por que isso acontece – e por que não pode continuar acontecendo

por Ricardo Stucchi

Em meio à discussão se voltamos ao trabalho presencial, adotamos o modelo híbrido ou mantemos o home office, há quem diga que esse é um bom momento para reexaminar a arquitetura de sistemas da empresa. Trata-se de uma afirmativa “meio certa”, porque, na verdade, esse assunto deveria ser pauta constante de toda boa gestão de TI.

A arquitetura de sistemas é a principal camada de tecnologia que apoia os processos de negócio, e é necessária para qualquer tipo de empresa.

Em um comércio, é preciso garantir o controle de estoque, a gestão de vendas, de receitas, de ativos e de equipe. No varejo (e em muitos outros negócios) essas atividades só funcionam a partir de sistemas.

Dessa forma, a arquitetura de sistemas é o tema de TI que tem o vínculo mais íntimo e intenso com o negócio. Pode-se até dizer que ela é a porção da TI essencial para o negócio, enquanto as demais partes são suporte para que a arquitetura funcione. Mesmo assim, em muitas  empresas, ela ainda é subvalorizada, quando não menosprezada.

Forma e função

O papel da arquitetura – aquela ligada à construção mesmo – é “melhorar a vida humana”, segundo uma importante fundação ligada ao tema, a John Lautner Foundation. Poderíamos aplicar essa mesma definição à arquitetura de sistemas, acrescentando que, além da vida humana, cabe a ela melhorar os negócios.

Assim, a arquitetura de sistemas traz em si uma série de desdobramentos que afetam o presente e o futuro de uma organização.

Tal qual a arquitetura de ambientes, a de sistemas deve atender as necessidades do usuário final, não os caprichos de quem a desenha. Mas muitas vezes não é isso o que acontece: é bastante comum que ela não seja compreendida de forma macro.

Sabe aquelas casas nas quais o proprietário “puxou” um banheiro aqui, depois uma cobertura ali? É provável que o resultado seja uma casa que “dá conta do recado”, mas que, examinada de perto, é uma estrutura que não comporta corretamente as necessidades de quem nela vive. Surpreendentemente, essa “mentalidade de puxadinho” permeia muitas arquiteturas de TI.

Com cada vez mais soluções especializadas que as startups vêm gerando, é natural pensar em como aproveitá-las. E é aí que a arquitetura deveria ganhar mais importância, e não menos. Para permitir à empresa mover-se rapidamente, com integração facilitada e sem sobreposição de sistemas, esse crescimento deve ser pensado para não criar “remendos” que apenas aparentemente resolvem o problema.

Empresa nenhuma pode pensar que vai desenhar uma arquitetura de sistemas e ficar com ela inalterada. Cada nova demanda pede que se reexamine toda a arquitetura, e não uma parte dela. O olhar tem que estar principalmente nas sinergias do negócio e na experiência do usuário. Novas tecnologias e soluções oferecidas pelo mercado também devem ser consideradas variáveis que podem mudar a forma de solucionar um problema e como o negócio pode se apropriar desses benefícios.

O mercado cada vez mais se conscientiza de que qualquer solução tem que fazer parte de um ecossistema. O quanto cada parte dele está preparada para trocar informações com outras partes deveria ser um ponto fundamental na escolha da arquitetura aplicada. Se isso não é levado em consideração, uma hora a conta chega.

“Deixa pra depois”

Nada do que apresentei até aqui é segredo. Ainda assim, o tema raramente é abordado em discussões estratégicas entre executivos, e dificilmente recebe um tratamento dedicado por parte de TI. Por quê?

Ao contrário do que se pode pensar, o problema nem sempre é dinheiro. É claro que há empresas que relutam em trocar o sistema por acharem que o investimento é muito alto. Já testemunhei casos de empresas com tantas deficiências na arquitetura que já perdiam negócios – o problema chegava no cliente final, com cobranças erradas e erros de informação. E pior: cada “correção” gerava outro problema.

Nesses casos, muitas vezes, são lideranças – não necessariamente da TI – que não querem encarar a dedicação que uma renovação da arquitetura exige. Esse é um aspecto delicado do mundo corporativo: há coisas que precisam ser feitas, mas que, por darem trabalho, são “varridas para baixo do tapete”, como se não existissem.

É importante entender que resolver problemas é diferente de apagar incêndios. Criar uma arquitetura adequada é trabalhoso, mas resolve vários problemas de forma definitiva. O fator dinheiro faz diferença, sim, não apenas na escolha das soluções tecnológicas, mas também para garantir a qualidade dos profissionais que irão definir e manter a arquitetura sempre atendendo ao negócio.

A TI tem que chamar essa pauta para si, permanentemente, para saber analisar em profundidade e dimensionar o impacto das escolhas e apresentar ao negócio os caminhos de curto, médio e longo prazo.

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artigo assinado por

Ricardo Stucchi

Sócio-consultor
Mais de 20 anos de atuação na área de TI. Trabalha intensamente para dar respostas a problemas complexos dos clientes.
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