Por Sergio Lozinsky
Chegou a hora tão esperada: a divulgação dos resultados da terceira edição do estudo Jornada CIO, que há quatro anos acompanha e conecta a trajetória executiva do líder de tecnologia com a evolução da TI dentro das organizações. Mas não é sobre os números em si que quero falar aqui; até porque você pode vê-los na íntegra, juntamente com as análises completas feitas pelo nosso comitê, no recém-lançado report da edição 2022/23.
A Jornada CIO foi concebida para entender os desafios, oportunidades e dilemas do profissional à frente da área de Tecnologia. O objetivo não é falar sobre tendências em tecnologia, apurar o tamanho dos orçamentos de TI ou quantificar os profissionais que dedicam suas carreiras ao tema.
Focamos no indivíduo CIO, cuja área liderada — pelas controvérsias e paradoxos vivenciados a todo o tempo — talvez seja a mais complexa dentro de qualquer organização. Afinal, a tecnologia é percebida como estratégica para qualquer negócio, mas o líder da área tem pouca autonomia frente aos seus pares. Pior, em várias organizações, ele não tem realmente “pares”: a TI parece flutuar em algum lugar entre os executivos que lideram o business e os gestores que tocam as operações — uma posição meio indefinida.
Os profissionais que respondem diretamente ao CIO precisam ser bons técnicos, mas, ao mesmo tempo, é crescente a demanda para que conheçam as nuances do negócio, liderem equipes diversificadas (colaboradores, terceiros, squads, tribos etc.).
A Jornada CIO, através das respostas qualitativas que apresenta, consegue explorar esse universo particular do líder de TI, e as análise agora publicadas podem ajudá-lo não somente a identificar questões que merecem a sua atenção, ou aprimoramento, mas também oportunidades que podem levá-lo a um outro patamar de reconhecimento na organização.
Para os CIOs, a jornada (com caixa baixa) e a Jornada (com caixa alta) apontam trilhas para o aperfeiçoamento. No caso do estudo, eu recomendo fortemente que você, CIO, utilize esse mapeamento para alguns propósitos: primeiro, comparar os resultados consolidados com as suas perspectivas pessoais. A partir disso, poderá responder algumas perguntas: as suas dores, seus desafios e objetivos estão espelhados nos dados da Jornada? Estão eles na média, acima ou abaixo do que foi revelado pela pesquisa?
O que sugiro com essa autoanálise não é que você busque se igualar ao todo, ou que perca as referências ancoradas nos seus valores. Muito pelo contrário. O que eu espero é que você consiga identificar o que faz sentido dentro das suas expectativas de carreira, selecionando, eventualmente, temas que podem ser aprimorados e tratados na sua individualidade. E mais: a Jornada CIO é um instrumento para reconhecer questões que devem ser clareadas e discutidas dentro da organização. Assim, pode ser uma boa ideia compartilhar alguns resultados com equipes, pares e líderes — claro, de forma seletiva e inteligente.
Alguns questionamentos podem ajudar nessa seleção:
Entre outros pontos que me chamaram a atenção, a terceira edição da pesquisa revelou a pressão contínua que o líder de TI sofre — e que, na minha opinião, só tende a aumentar. Há uma diversidade de tecnologias e assuntos a se dedicar ao mesmo tempo: nem bem abordamos a questão da cibersegurança e a inteligência artificial já atravessou a porta, só para citar uma situação.
Temas complexos se sucedem e surgem numa velocidade impressionante, e as demandas que precisam ser tratadas em tecnologia podem extrapolar os mais comprometidos votos de priorização definidos há pouco tempo. Combine isso com a pressão por resultados e eficiência e, pronto, a bomba está armada. É um paradoxo. Uma equação difícil de solucionar no dia a dia, que já tem operações e projetos em andamento.
Para o profissional de TI, estar sempre atualizado é outro desafio. Muitos estudam à noite e, em meio à escassez de tempo, privilegiam cursos curtos. Como se manter atualizado se estamos vivendo um dia a dia em que planos podem mudar a qualquer momento e o planejamento de curto prazo é instável? Some às capacidades técnicas a cobrança por habilidades de gestão, comunicação e negócios.
Do ponto de vista do líder de TI, a única maneira de organizar e combinar essas competências é criar tempo para a equipe se atualizar. É fundamental navegar em todos os temas da tecnologia ao menos em nível macro — e, para isso, vale contar com a somatória de skills da equipe. Pensemos, também, que a capacidade de liderar em meio a um cenário tão heterogêneo e mutável não é inata, mas algo que igualmente precisa ser aprendido.
Aliás, outro conjunto de informações e insights que merece atenção na Jornada CIO refere-se à satisfação pessoal do líder de tecnologia. Ao longo dos anos, acompanhei CIOs que resolveram pedir demissão porque não estavam felizes com o ambiente em que trabalhavam. Dada a escassez de mão de obra qualificada no mercado, esses profissionais acabam conseguindo uma reentrada rápida.
Ambientes tóxicos aumentam o risco de a empresa perder não apenas o líder, mas também talentos do segundo e do terceiro escalão. Pessoas que têm as chaves de como funcionam os processos da organização.
Ao mesmo tempo, o CIO não pode ter uma posição meramente defensiva frente ao desafio de construir ambientes favoráveis à discussão e à dúvida. Tecnologia é um tema complexo e que não pode ser tratado no simples preto e branco: o que funciona numa empresa não funciona em outra e até a forma de implantar uma mesma tecnologia pode ser completamente diferente, mesmo em empresas do mesmo segmento e de tamanhos similares.
Decidir romper com um clima organizacional tóxico é legítimo, mas, antes de desistir, parece-me razoável questionar: o que eu, enquanto líder, posso fazer para mudar a história e criar ambientes melhores?
Convido você, então, a debruçar-se sobre a Jornada, construindo o seu próprio entendimento a respeito dos dados, experiências e ideias ali consolidadas. E, se essa reflexão contribuir para clarear ao menos parte dos seus dilemas e desafios, esse estudo terá criado o seu valor.