*Por Ricardo Stucchi
O CIO não faz nada sozinho, apesar de ter um papel central nas empresas. Em todos esses anos de vivência, salta aos meus olhos a importância do segundo escalão da TI.
Para colocar projetos adiante e traçar planos para o futuro, é preciso contar com a participação da média gerência, os líderes que estão à frente das implementações de tecnologia. Contudo, apesar da óbvia necessidade de colaboração e alinhamento, a tensão com o CIO é latente em muitas empresas. E esse ponto merece atenção.
Já acompanhei a evolução de vários especialistas que trilharam caminhos de sucesso – alguns até viraram CIOs. Sabe o que todas essas pessoas tinham em comum? Além de tecnicamente competentes em suas funções, sabiam gerenciar riscos e foram capazes de transmitir conhecimentos de TI para o negócio, entregando valor para toda a arquitetura empresarial. Esse equilíbrio entre especialização e visão ampla sobre o negócio é perceptível nos gerentes que ponderam, avaliam investimentos, compreendem situações complexas e conseguem navegar pelos dois mundos.
Mas como a gerência de médio escalão pode se aproximar do CIO? Como se fazer ouvir e entender, encontrando o melhor balanço entre competências técnicas e negociais?
É fundamental, dentro da organização de TI, ter um canal com o CIO. Esse papel pode e deve ser feito pelos profissionais de média gerência, que têm o dever de ponderar os riscos do negócio em cada situação trabalhada, evitando que a discussão se torne totalmente técnica.
Nas empresas, tudo tem uma história e nada acontece sem explicação, mas muitas decisões importantes são tomadas de cima para baixo, ignorando riscos técnicos que possam vir da base.
Um bom profissional de TI entende o contexto e sabe que, muitas vezes, a condição ideal não existe. Ele tem consciência do problema, sabe o que deveria ser feito para resolvê-lo, mas também entende por que esse caminho nunca foi traçado. Assim, ele consegue identificar quando e como abordar o CIO para propor não necessariamente a melhor, mas a solução possível.
Se uma situação preocupa a média gerência, esse profissional não pode ter medo do CIO. É preciso levar o tema até o líder. Mesmo assim, há chances de não ser ouvido na primeira vez, o que pode até ser consequência de uma mensagem que não foi transmitida corretamente.
A pior postura possível é o conformismo, achar que algo sempre foi feito de uma maneira e aceitar que a mudança nunca acontecerá. O melhor profissional enxerga oportunidades reais de melhora e trabalha por elas, ao mesmo tempo em que também entende o tempo das coisas e tem paciência.
Todo e qualquer assunto pertinente deve sempre ser levado ao CIO. Caso o medo ou o conformismo afastem essa comunicação, a empresa certamente terá problemas. Na maioria das vezes, justamente o profissional omisso é quem levará a responsabilidade por isso.
Pode ser que os especialistas entendam que os desafios propostos pelo líder estão muito ousados. Pode ser que o CIO tenha feito promessas difíceis de acreditar ou que esteja direcionando esforços para alvos que a equipe não considera prioritários. Em casos assim, a transparência deve ser ainda maior. O time precisa entender que muita coisa não foi decidida pelo CIO. Às vezes, ele apenas tenta equilibrar o melhor cenário possível entre demandas e imposições que chegam de todos os lados. Já falei sobre isso em outros artigos.
Também não adianta jogar contra o CIO, pois o time não vai vencer se o líder for mandado embora. Ao contrário, toda a empresa e todos os funcionários perdem se os resultados do negócio não acontecem. Em casos assim, o CIO pode perceber o que está acontecendo e tomar atitudes ruins para equipe, trocando profissionais que não jogam junto por outros com quem ele possa contar.
Vamos ao pior dos casos: você não concorda com as medidas do CIO, mas esperou o tempo das coisas e, com bom senso, expressou sua opinião. O tempo passa, mas nada acontece. Nesse cenário, é preciso se questionar o quanto você realmente está firme em suas próprias convicções. Será que o CIO não está correto e você está errado? Se não for esse o caso, é melhor que o profissional insatisfeito procure outro movimento do que jogar contra nos bastidores.
A regra é: convença ou seja convencido, mas não fique no meio do caminho.