Coisas que eu gostaria que tivessem me contado no início da minha carreira em TI

Se eu soubesse o que sei hoje, teria feito algo diferente no passado? Parece um questionamento sem utilidade, mas ele tem, e conto a seguir por quê 

*Por Ricardo Stucchi

Não dá para voltar no tempo. Mas é natural a gente fantasiar sobre outras versões possíveis da nossa história: “e se eu tivesse ouvido aquele conselho? Teria sido tudo diferente?”

É difícil saber. Quando jovens, nem sempre agimos com bom senso. Gosto de acreditar que a minha carreira se desenrolou um pouco como os versos da clássica “My Way”, imortalizada por Frank Sinatra: “Regrets, I’ve had a few /But then again, too few to mention” (tive meus arrependimentos, mas até aí, muito poucos para mencioná-los). Posso não ter feito tudo da maneira “correta”, mas gosto do profissional que me tornei.

Imaginar o que poderíamos ter feito de diferente não muda o passado, mas reconstruí-lo nesse exercício nos permite entender o que mais importa em nossos mundos. Foi pensando nesses aprendizados que listei aqui as coisas que eu gostaria de ter ouvido 20 anos atrás, quando estava iniciando minha carreira em TI.

 

1.”Cultive relacionamentos”

Não estou falando aqui de relações oportunistas, mas sim sobre estabelecer vínculos mais profundos e duradouros, especialmente com pessoas que têm ideias diferentes da nossa. Isso amplia a nossa visão de mundo e nossos campos de atuação.

Veja que escolhi o verbo “cultivar”, e não foi por acaso. Relacionamentos são entidades vivas e, como tal, exigem cuidados permanentes. Quem tem a visão exclusiva de “networking” se esquece de que estabelecer relacionamentos é mais que comparecer a eventos ou mandar uma mensagem na hora oportuna. É preciso ter uma escuta atenta, se envolver, permitir a construção de parcerias de verdade. Significa olhar as pessoas como elas são, e não conforme a conveniência que elas possam nos oferecer.

Relacionamentos bem cultivados nos ajudam a atravessar altos e baixos, seja nos tirando da beira do abismo ou nos impulsionando a voos ainda mais altos. Afinal, somos os responsáveis por nossas próprias atitudes, mas não construímos nada sozinhos: empresas, famílias, afetos, grupos de trabalho – todos são criações coletivas, e é na solidez de boas relações que eles prosperam.

 

2.”Confie em seus valores”

Quando mais jovem, em algumas poucas ocasiões, me deixei influenciar e fiz o que não acreditava, levado principalmente por inexperiência e falta de confiança. Falo, basicamente, sobre ações em que embarquei, mas com os quais eu não tinha total sinergia, por ter aberto mão de ideias que me pareciam importantes, ou ter me aliado a pessoas que não compartilhavam dos mesmos valores que eu.

Ser flexível é necessário, pois não existe um conhecimento “absoluto” – o que nos parecia inquestionável ontem pode se revelar pura teimosia no futuro. Mas existe uma diferença importante entre crenças e valores, e que ajuda a entender o que estou dizendo aqui. Crenças são transitórias, baseadas na experiência e no conhecimento que temos naquele momento. Já os valores são construídos ao longo dos anos, a partir da combinação de reflexões morais e atitudes concretas.

Costumamos manifestar nossos valores em discursos, mas eles apresentam de verdade em nossos atos. Não à toa, o filósofo francês André Comte-Spomville escreveu que “só fazemos aquilo que queremos, e só queremos aquilo que fazemos”, demonstrando o quanto agimos de acordo com nossas vontades e princípios (e não necessariamente em concordância com o que gostamos de dizer).

Mas, para saber quais são de fato os nossos valores, precisamos de algo mais. E esse é exatamente o terceiro conselho que eu gostaria de ter ouvido na minha juventude. 

 

3.”Autoconhecimento é tão importante quanto ‘conhecimento'”

O saber “técnico” é valioso e não pode ser menosprezado. Mas conhecer a si mesmo tem uma relevância maior e mais profunda. Saber até onde você consegue ir, até onde pode se comprometer, entender os seus limites e potencial: tudo isso pode fazer tanta (ou mais) diferença que o domínio de ferramentas e conhecimentos específicos.

Conhecer a si mesmo pressupõe testar nossos limites. Existe um ditado  antigo que afirma que não existem ateus em trincheiras de combate, pane de avião ou naufrágio. Não vamos discutir fé aqui, mas a provocação é boa: como você reage diante de uma situação extrema? Ou diante de uma “oportunidade irrecusável”? Qual seu comportamento diante do tédio, da ambição, do fracasso, do sucesso? Raramente sabemos a resposta de antemão. 

Existem várias ferramentas que nos permitem a auxoexaminação – da psicologia à meditação, o “cardápio” é imenso. Elas ajudam, sem dúvida, mas se expor a situações desafiadoras também ensina bastante sobre nós mesmos.

Em cima da bike consigo enxergar com outros olhos aspectos da minha vida e perceber como reajo a limites e desafios. Mas não é só desse lugar que consigo investigar a mim mesmo. Conhecer a si próprio é um processo contínuo, que dura e pode nos trazer revelações até o fim de nossas vidas. Afinal, não somos hoje a pessoa que éramos seis meses atrás. E quando mais exercitamos esse aprendizado, mais seguro e confiável se torna esse conhecimento de nós mesmos. Quisera eu ter consciência disso quando era um iniciante nessa carreira.

Estas são as minhas reflexões sobre as coisas que gostaria que tivessem me contato no início da minha carreira. E você? O que você gostaria de ter ouvido no passado que poderia ter mudado o seu futuro?

 

artigo assinado por

Ricardo Stucchi

Sócio-consultor
Mais de 20 anos de atuação na área de TI. Trabalha intensamente para dar respostas a problemas complexos dos clientes.
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