*Por Ricardo Stucchi
O hype da inteligência artificial generativa deu espaço para uma pergunta incômoda, mas pertinente: quais os problemas um profissional, em diversas áreas, pode resolver que a IA generativa não é capaz?
No âmbito da análise de negócios, que é o nosso foco aqui, essa discussão toma rumos bem diferentes dos que verificamos em outros contextos, pois essa prática, em essência, depende de um fator ainda incapaz de ser replicado: o pensamento crítico humano, que vai além de dados e algoritmos. Ao mesmo tempo, quem pratica análise de negócios em seu cotidiano nunca contou com uma ferramenta tão poderosa quanto a inteligência artificial generativa. Ela é uma fonte riquíssima de informações, um verdadeiro acelerador de boas respostas – desde que seja usada corretamente.
A relação entre o analista e a IA se baseia em um pilar fundamental: as perguntas formuladas – famoso “prompt” que tantos falam agora. Boas perguntas permitem que a IA explore cenários comparativos, busque fontes consistentes, conecte dados e ofereça sugestões aprofundadas para a tomada de decisão. Aqui, a IA não substitui o analista, mas torna seu trabalho mais robusto.
Gosto da analogia que um amigo faz com o filme Vingadores – Era de Ultron (2015), em que o vilão é uma inteligência artificial criada com as melhores intenções, mas que se torna uma ameaça em nível mundial por ter sido abastecida com as perguntas erradas. A história é ficcional, mas a premissa é oportuna. Uma IA mal calibrada entrega, na melhor das hipóteses, informações inúteis. Na pior, ela causa estragos.
Voltando para o mundo real, um estudo do MIT revelou que 95% dos projetos de IA generativa no mundo corporativo não entregam resultados satisfatórios (ganhos relevantes em receita ou eficiência), pois foram planejados com objetivos pouco claros e alimentados por dados desalinhados – ou seja, faltou análise…
A análise de negócios não é uma disciplina recente, mas ganhou diferentes nomes ao longo de algumas dezenas de anos e, atualmente, vem sendo praticada dentro das áreas de tecnologia por profissionais com o cargo de Analistas de Negócios, bem como por especialistas nas funções de Business Partners, Business Relationship Managers, Product Owners, Gerentes de Projetos, entre outros. Tomar decisões para lidar com cenários complexos sempre fez parte do universo da TI, mas hoje, com a pluralidade de informações que temos, na velocidade com que elas surgem, a atuação desses profissionais é ainda mais crítica.
Nesse cenário, ao tentar resolver um problema, é preciso explorar todos os aspectos de uma necessidade, compreender como e por que uma atividade é feita, entender seus fundamentos e relacionamentos, buscar opiniões de especialistas, entre outras atribuições que fazem deste um trabalho de muitas horas e pensamento crítico. O foco da análise do negócio é entender a fundo problemas e oportunidades, e não atuar superficialmente e somente nas consequências.
Como toda ciência, a análise de negócios lida com desvios imponderáveis em algum momento. Ainda assim, consegue se manter sólida quando estruturada por um método científico e bem delineado. A questão que leva alguns executivos a terem ressalvas com a análise de negócios é que ela leva tempo.
“Levar tempo” parece ser uma expressão quase ofensiva em tempos de agilidade a todo custo. Mas é preciso lembrar que a análise realmente tem seu timing. Ela é uma atividade que amadurece à medida que avança. Atualmente, boa parte das pessoas sofre de uma ansiedade terrível para achar respostas rápidas. Mas os apressados que dizem que “não há tempo para pensar” fatalmente acabam sendo aqueles que precisam de tempo para refazer o que não foi bem-feito.
A análise de negócios não é inimiga da velocidade, ela é apenas a antítese da mentalidade fail fast, fail better para qualquer coisa. Da mesma forma, ela também não vai atender bem aquelas lideranças que querem apenas que as coisas sejam feitas à sua maneira, mesmo que isso traga más consequências.
Via de regra, a pressa passa, mas os maus resultados ficam. E é aí que entra a inteligência artificial generativa como um aliado poderoso, pois ela confere à análise uma velocidade que seria impossível até antes de seu surgimento.
A inteligência artificial generativa traz uma característica que parecia inalcançável na análise até poucos anos atrás: a velocidade. Hoje, cenários que precisariam de semanas podem ser modelados em minutos com ferramentas de IA. Isso, porém, não significa que ela possa substituir o caráter analítico humano.
Enquanto a IA gera insumos (insights, previsões, cruzamentos de dados), é essencial contar com um profissional que saiba interpretá-los e traduzi-los em recomendações claras e aplicáveis. No fundo, a IA é uma fonte de matéria-prima para a análise, mas a qualidade do resultado final ainda depende do fator humano.
Como temos debatido com frequência aqui na Lozinsky Consultoria, as empresas têm um problema de ineficiência crônica, que faz com que recursos sejam desperdiçados todos os meses. Essa não é uma situação exclusiva de uma ou outra vertical – é generalizada.
O papel do analista como “criador de perguntas certas” entra em cena com ainda mais força nesse cenário. Se o hype da IA nos ensinou algo, é que a tecnologia vai continuar avançando – porém, as soft skills, como pensamento crítico, criatividade e empatia, não podem ser automatizadas.
Quem possuir a capacidade de compreensão profunda de contextos, tiver experiências interdisciplinares e habilidades de comunicação vai conseguir traduzir os insights gerados pela IA e se diferenciar no mercado.
Problemas sempre existirão, assim como novas ferramentas de IA surgirão como soluções transformadoras. Porém, a análise de negócios nos lembra que a capacidade de questionar de forma profunda e sistemática ainda é humana. E, como em qualquer decisão organizacional, vale um lembrete simples: a pressa passa, mas os resultados ficam.