Com tecnologias e desafios de negócio de alta complexidade, ganha destaque o profissional que trabalha por sua evolução – como especialista, sim, mas principalmente como gestor e líder
Sergio Lozinsky
“A inovação distingue um líder de um seguidor”
Steve Jobs, fundador da Apple
A falta de talentos em TI é um assunto persistente – e de tanto existir, nos acostumamos com ele. Mas a era digital e os desafios complexos de negócio colocam fim à possibilidade de aceitar as coisas tal como elas são. Rompem também com critérios estabelecidos de seleção. E nesse chacoalhar dos tempos e dos perfis profissionais necessários para lidar com novas tecnologias e os desafios de crescimento das organizações, há um fato que ninguém é otimista o suficiente para negar: a formação de equipes de TI tem gargalos cada vez mais sensíveis.
Nos próximos três anos, 120 milhões de pessoas das dez maiores economias do mundo vão precisar de recapacitação profissional para aprender a lidar com inteligência artificial e automação inteligente, diz um estudo recente da IBM. Apenas no Brasil, esse número chega a 7,2 milhões – incluindo trabalhadores de todos os setores. Na carreira em TI, essa renovação de conhecimentos tem dois caminhos promissores: a especialização em novas tecnologias (como em ciência de dados, por exemplo) e a habilidade de unir visão tecnológica e o mundo dos negócios.
A tendência é que o mercado ofereça melhores oportunidades para quem percorre a segunda jornada, com acúmulo de competências que vão além da TI e incluem conceitos de gestão e habilidades de liderança. Isso não significa que os especialistas serão menos valorizados, mas cabe a eles enxergar as janelas que expandem seus horizontes de carreira. No caso de tecnologias mais recentes, sai na frente quem souber lidar com ferramentas complexas, mas não só isso. Mesmo os profissionais de excelência técnica devem observar o mercado, reconhecer as mudanças e ter resiliência para aprender e recomeçar, conforme novas oportunidades surgem ao mesmo tempo em que suas especializações se tornam obsoletas.
Essa característica – muito valorizada no profissional especializado – tem nome: learning agility, também conhecida como aprendizado contínuo. Não dá para ignorar o fato de que há um (alto) investimento, dos pontos de vista pessoal e financeiro, para se especializar em determinadas tecnologias. Cursos, certificações e experiência são critérios decisivos de seleção de equipes técnicas. Entretanto, na velocidade com que o conhecimento hoje se torna obsoleto, empresas e profissionais terão que encontrar alternativas: como pagar a conta de uma formação complexa, contínua e custosa?
Os representantes da TI
De um lado, há os profissionais de tecnologia; de outro, em um papel que organizações e CIOs ainda não sabem bem como desenvolver, há os representantes da TI – profissionais que se relacionam com o negócio, fazendo a ponte entre demandas empresariais e tecnologia. Esse é provavelmente o maior gargalo da formação de equipes qualificadas, pois, se não tratada de forma adequada, adia o posicionamento estratégico da área de TI na empresa. Portanto, para quem planeja seguir a carreira de TI pelo viés de gestão, o ponto-chave é aprimorar a visão e o relacionamento com as áreas de negócios. É preciso, ainda, ter a habilidade de gerir projetos complexos, que envolvem equipes multidisciplinares, e sabedoria para escolher as tecnologias que de fato endereçam os desafios da empresa.
Na minha experiência como consultor, em constante contato com as lideranças das empresas, a percepção de que o gestor de TI possui essa visão de negócios não ocorre na maioria dos casos. E se os profissionais do setor não se prepararem, logo veremos os cargos de liderança de TI sendo ocupados por pessoas de fora do mundo da tecnologia, mas capacitadas para a transformação do negócio.
Esse não é um drama apenas dos profissionais de TI. As empresas também precisam entender como encontrar e selecionar essas pessoas. Já deveriam contratar profissionais não pelo seu currículo, mas sim pela capacidade que apresentam de resolver problemas. Ainda não o fazem porque há uma dificuldade dos recrutadores em reconhecer esses talentos. “Estou contratando a pessoa certa?”, é uma pergunta que ouço com frequência. E a forma de respondê-la passa pela boa e velha entrevista olho no olho, a fim de entender se há naquele indivíduo o tal do propósito que nos move para vencer os desafios da empresa.
Em tempos de problemas e soluções de alta complexidade, grau de concorrência elevado entre as empresas e, ainda, marcos regulatórios decisivos – Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) em destaque -, abrem-se inúmeras janelas para quem quer crescer, aprender e se destacar. E a evolução na carreira de TI é uma busca pessoal e intransferível.
* Texto originalmente publicado na plataforma IT Trend, da IT Mídia.
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