Evoluir no pedal é um pouco como na consultoria: é preciso trabalhar em equipe, corrigir rotas e repor aquilo que se perde no caminho para enfrentar desafios cada vez mais complexos
Por Ricardo Stucchi
Pedalar me traz ótimas lembranças da infância, como disse em outro artigo por aqui, tempos atrás. Aprendi a andar de bike quando era menino, mas a gente cresce, a vida fica corrida e as brincadeiras perdem espaço para a maturidade. Quem nunca ouviu essa história? Só que eu voltei, já adulto, a pedalar despretensiosamente, com uma bike simples, para fazer companhia à minha filha. E, desde então, novas e inesquecíveis lembranças estão sendo criadas.
A bike se tornou meu transporte. Pedalando pelas ruas de São Paulo, na movimentada Avenida Berrini, descobri que o treinamento nas múltiplas tarefas envolvidas no girar dos pedais vai além da atividade física. Dois anos após a escrita do meu primeiro artigo sobre o tema, coleciono uma uma mountain bike para terra, uma speed para o asfalto e uma urbana para passeios e trabalho – característica comum de quem foi picado pelo bichinho do ciclismo. Viajo longe, em quilômetros e pensamentos. E depois de tantos percursos, tudo mudou: a experiência na bike e fora dela, os desafios, o texto.
Aqui estão mais cinco coisas que aprendi pedalando e que também valem para a carreira profissional:
1- Siga os melhores para crescer
No primeiro artigo mencionei que sozinho você vai mais rápido, mas em grupo você vai mais longe. Só que ao evoluir no pedal, passei a frequentar grupos com metas mais ambiciosas, em viagens mais longas. E foi nelas que vivenciei o chamado efeito vácuo, que acontece quando você anda atrás de um ciclista mais rápido. Ele recebe mais diretamente a resistência do vento e, por estar na frente, permite a quem está atrás a desenvolver a mesma velocidade, mesmo que tenha capacidade diferente. De tanto acompanhar o efeito vácuo, o corpo se fortalece até que consegue, também, liderar o grupo.
O que isso me diz sobre a carreira profissional? Bem, quando construímos um projeto ao lado de alguém melhor, mais ágil e com ótimas ideias, somos estimulados e desafiados a crescer para acompanhar o ritmo. E, assim, aproveitamos melhor as próximas oportunidades, desenvolvendo conhecimentos e habilidades para um dia, liderar a equipe. Não faz muito sentido?
2- Personalize sempre
Da mesma forma que pedalar na terra com uma bike de velocidade, ou acompanhar um pelotão de speeds com uma mountain bike está longe de dar o melhor resultado, não adianta usar a mesma fórmula para resolver os problemas de empresas diferentes, ou achar que o que deu certo para uma dará certo para todas. Cada tipo de terreno exige uma bike específica; cada organização tem seu próprio contexto, pessoas e cultura.
Além disso, na TI há diferentes soluções à disposição e novas surgindo a cada dia. O diferencial passa a ser, portanto, a perspicácia de reconhecer quais são as mais adequadas para o perfil e o momento da organização – aquelas que, de fato, resolvem as dores da transformação dos negócios.
3- Foque no que é importante
Quando a gente começa a evoluir no ciclismo, quer logo melhorar o equipamento para alcançar um alto desempenho. Vai atrás de uma bicicleta mais leve (carbono, de preferência), ou pensa em mudar o câmbio para ganhar mais precisão e tirar uns poucos gramas do peso, ou ainda acha que essa ou aquela roupa é melhor para diminuir a resistência do ar e tornar você mais veloz. Mas o que faz diferença mesmo é ter perna para pedalar forte.
O mercado oferece hoje inúmeras metodologias, práticas, modelos e tecnologias. Mas a preocupação principal deve ser sempre com o conteúdo. E esse conteúdo não surge do nada. É resultado do esforço real de pessoas talentosas, que estudam e dedicam tempo para um trabalho de qualidade. Ou seja, não adianta nada colar post it no vidro se falta à equipe a capacidade de entregar o que propõe, no papel, aquele projeto tão inovador.
4- Não se esqueça de repor aquilo que perde no caminho
Esta é uma das principais lições das pedaladas mais longas. Se você não repõem a água e os nutrientes ao longo da jornada, você pode simplesmente não aguentar, finalizar em condições que vão te prejudicar para um próximo desafio ou até mesmo correr o risco de sofrer uma lesão – que pode, inclusive, te manter afastado da bike.
O mesmo acontece quando estamos trabalhando debruçados sobre um problema há muito tempo, ou então em projetos longos. Para encontrar a solução ou buscar forças, devemos olhar para os lados e repor o que o esforço consumiu. Incentivar novas formas de ver o desafio, fazer benchmark, trocar experiências, ler materiais de fôlego. Às vezes o simples fato de falar sobre o problema com um colega faz com que surja um insight, um estímulo ou até mesmo a solução. É um processo de retroalimentação que deve ser feito sempre.
5- Nada em exagero faz bem
Por fim, não adianta achar que quanto mais pedalar, melhor. Estressar o corpo sem prever períodos de repouso é um erro comum, que pode, mais uma vez, resultar em uma lesão séria. O corpo pede descanso e devemos respeitá-lo.
Da mesma forma, se você se dedicar somente ao trabalho, semana após semana por horas e horas, e se esquecer de que você trabalha para viver e não que vive para trabalhar, seu corpo também vai pedir descanso. Curtir a família, os amigos, viajar, ler um bom livro, assistir um filme, esvaziar a mente e pedalar – é claro – são atividades que não me deixam adoecer e me dão o fôlego necessário para continuar trabalhando com o que eu também adoro.
A bike, para mim, é uma grande fonte de aprendizado e reforço de ideias fundamentais – troca, foco, equilíbrio. E as suas fontes, quais são?
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