Por Wagner Marques
Pressão. Para uns, um fardo do qual é preciso de livrar. Para outros, uma condição impossível de ser eliminada da rotina. Nem preciso dizer a qual grupo os profissionais de TI pertencem.
Embora a área de tecnologia lide historicamente com o senso de urgência e cobrança das organizações, fatores internos e externos podem ditar a medida da pressão à qual as equipes estão expostas – e, o mais importante, como os times estão reagindo aos desafios atuais.
Na Jornada CIO, um amplo mapeamento feito pela Lozinsky Consultoria sobre a carreira do líder de TI, a “flexibilidade de modelo de trabalho” foi apontada por 63% dos dirigentes da área como um dos maiores diferenciais competitivos para atrair talentos. Mais do que uma crença em um ou outro modelo, a aceitação da jornada ao menos parcialmente remota é uma mudança forçada: mais de 78% dos profissionais de tecnologia preferem trabalhar em casa do que nas empresas, segundo um estudo da GeekHunter. Apenas 2% deles demonstram interesse em voltar a atuar presencialmente.
Boa parte da justificativa por trás das estatísticas está em uma palavra estrangeira: burnout.
De 2020 para cá, a pressão colocada sobre o trabalho da TI ganhou novas dimensões, o que também é fruto de um maior reconhecimento de que, sem tecnologia, a organização colapsa. Ninguém duvida disso depois de vivenciar uma pandemia, quando operações inteiras tiveram que se reinventar para funcionar remotamente, canais de atendimento precisaram ser criados da noite para o dia, sistemas implantados a toque de caixa, etc. Isso exigiu uma velocidade de resposta atípica da TI, estabelecendo uma expectativa que não diminui mesmo passado o evento pandêmico.
Some a essa nova realidade o fato de que o retorno das atividades, do remoto para o presencial ou híbrido, não vem ocorrendo de uma forma racional. Muitas empresas estão impondo políticas aleatórias, como trabalhar do escritório X vezes por semana e os demais dias em casa, por exemplo. Nesse esquema, é comum que haja um rodízio de quem vai para o escritório. Assim, os profissionais in loco pegam trânsito e largam suas famílias para trabalhar com outros profissionais que não estão ali, mas apenas online.
Esse é o pior modelo, uma escolha que enfraquece as trocas e a colaboração entre colegas, gera prejuízo na produtividade e nos resultados do trabalho e cria um ambiente geral de irritação, afinal, é a qualidade de vida das pessoas que está em jogo.
Salvo exceções, quase todo o time aceita a realidade calado, vivendo uma frustração que será sentida individualmente, mas que se ampliará de forma coletiva. Não é difícil imaginar que um profissional insatisfeito aceite outra proposta de trabalho – ainda mais em TI, um mercado que sofre com mão de obra escassa e disputa ferozmente os bons profissionais.
Os desafios do negócio impõem transformações cada vez mais rápidas às empresas. E toda essa pressão recai sobre os times de TI.
As equipes precisam entregar resultados rápidos e inovadores, ao mesmo tempo em que lidam com um legado de problemas não resolvidos e que, muitas vezes, são agravados pela falta de investimento em tecnologia – por exemplo, o sucateamento de equipamentos, sistemas obsoletos e não integrados, dados não saneados e pulverizados, entre outros impasses. É fácil entender a frustração gerada nos CIOs e profissionais da área, dada a vontade de entregar frente aos entraves que precisam ser vencidos para tal.
Tudo isso resulta em uma rotina de trabalho que pega fogo. E lá vai o CIO bombeiro apagar um incêndio atrás do outro, sem tempo para pensar em como recuperar os estragos deixados pelas chamas. Já conversei com profissionais que relataram a sensação de falta de propósito no trabalho; de se esforçar muito, mas entregar poucas coisas que realmente vão impactar positivamente a empresa. É uma situação difícil e que deságua num mar de decepção.
Considere, ainda, uma questão histórica da TI, que é a já citada falta de mão de obra qualificada. Não é difícil perceber que os profissionais da área remam em barcos pesados e navegam por caminhos turbulentos, mas com tripulações enxutas, muitas vezes menos numerosa do que o necessário. Está todo o mundo sobrecarregado.
Não tem jeito: pressão sempre será uma realidade dos profissionais de TI. Mas como diminuir esse impacto e aliviar a tensão?
Do lado do funcionário, antes de buscar uma recolocação, é possível encarar o caos como uma oportunidade: e se você virar o líder da transformação que a empresa precisa? Buscar uma posição mais estratégica, que ultrapassa o apagar de incêndios diários, é um caminho para os profissionais mais ambiciosos. A voz que se levanta pode ser exatamente o necessário para superar o ambiente de pressão. Se der certo, ganham todos.
A TI também precisa ter uma interlocução mais próxima com o negócio. Só assim será possível compreender o que precisa ser feito – e, talvez o mais importante, o que não precisa! – para que a empresa avance. Será que todos esses squads realmente entregam valor estratégico para a empresa? O que de essencial ainda não está sendo tratado pela TI para impulsionar o crescimento e os objetivos estratégicos do negócio?
Para lidar com todos os problemas já conhecidos e os desafios porvir, o CIO tem que desenvolver um bom plano, ser resiliente e capaz de responder às mudanças, agarrar-se às melhores práticas e às melhores pessoas, desenvolver boas políticas de trabalho e saber segurar talentos. Afinal, em um mercado tão complexo, perder bons profissionais não é um luxo que pode ser aceito.
O melhor plano de retenção de talentos que uma empresa pode ter é a capacidade de se transformar, inovar e criar condições favoráveis para que os profissionais desenvolvam essas competências.