Quando cobrança e responsabilidade pesam sobre líderes e times de TI
Os líderes da área de tecnologia da informação lidam com pressão, altos orçamentos, muita cobrança e alguma frustração. Quais os antídotos para esse cenário?
Por Ricardo Stucchi
“Você não imagina quantas vezes eu pedi isso, mas fui ignorado. É frustrante.” A voz que depõe é a do CIO, e eu já ouvi essa queixa algumas vezes ao longo da minha carreira em TI e como sócio de uma consultoria especializada.
A frustração tem sentido: ninguém gosta de ser dispensado de reuniões importantes e decisões estratégias, para somente ser envolvido quando as coisas não andam bem e a empresa decide buscar ajuda externa. Quando a consultoria chega, eventualmente propõe mudanças e melhorias que o CIO falava há anos, mas não tinha escuta.
Em muitos casos, o CIO foi ignorado porque a empresa ainda não estava pronta para as transformações propostas – e é preciso respeitar e entender esse tempo. Em outros, o problema talvez tenha sido de comunicação. De qualquer maneira, não basta elencar as vantagens técnicas de determinada ação, é preciso dialogar com as pessoas certas e construir a mudança.
A frustração diante de ações importantes, porém não acolhidas pela organização, é apenas um dos dilemas enfrentados pelos líderes de TI. Esses profissionais lidam com uma pressão enorme e crescente, boa parte dela estimulada por orçamentos altos. São pressionados a gastar menos – e eu não tiro o mérito da austeridade. Quando o assunto é tecnologia, as quantias podem ser relevantes e é preciso ter cautela, planejamento e muita organização no trabalho – enfim, gestão.
O dinheiro leva a uma equação difícil e contraditória: há pressão com ele e há pressão sem ele. Há líderes de TI que, mesmo empoderados com o investimento, falham na execução, ao acharem que podem fazer tudo sozinhos e não se cercarem de ajuda qualificada.
É um desafio gigantesco implementar um método de trabalho e garantir que a tecnologia entregue o melhor resultado possível, sob pena de perder a credibilidade, a liderança e, às vezes, até o emprego. Por outro lado, tem CIO que fica com o pires na mão e precisa mostrar serviço com poucos recursos. É como cruzar o Brasil com um carro 1.0. de vinte anos e que nunca viu uma oficina: você pode até sair de Porto Alegre e chegar em Recife, mas não vai ficar preocupado na estrada?
Ninguém pode se surpreender se uma tecnologia obsoleta falha no meio do caminho.
Ao longo da minha carreira, trabalhei em diversos negócios, de pequenos a gigantes multinacionais, de startups a empresas familiares. Fui analista de sistemas, gerente e consultor e trabalhei em diferentes nichos, da saúde ao turismo. Acumulei experiência, uma frustração aqui e ali e muitos aprendizados. Aprendi que para lidar com a pressão o CIO precisa de alguns antídotos. E um deles envolve entender que a tecnologia sempre tem que trabalhar para o negócio.
A tecnologia tem suas próprias demandas e processos, mas não pode se limitar a esse território. Um dos maiores dilemas enfrentados pelos líderes de TI é não conseguir se expressar com seu superior, seja o presidente ou o diretor financeiro (os mais usuais). Isso frequentemente acontece quando o CIO entende pouco dos processos de negócio da organização e acaba levando temas técnicos sem vínculo com o resultado da empresa.
Um bom exemplo vem da cibersegurança, assunto que cada vez mais tem tirado o sono de muito CIO. Investir e melhorar processos nessa área é como ter um seguro: pode até ser caro, mas lidar com uma perda é muito mais.
A lógica é a mesma para a tecnologia em geral: para mostrar a importância de um investimento ou mudança, é fundamental deixar claro os impactos reais das medidas para a empresa. Conhecer o negócio, focar na comunicação e na transparência ajudará o CIO a conseguir uma gestão com menos frustrações.
A essa altura você pode estar pensando: “Mas se a gestão de TI é ruim, só comunicação não resolve”. Você tem toda razão. E é por isso que, por aqui, vamos falar todo mês sobre os desafios da gestão de TI.