No início dos anos 2000, as companhias aéreas ainda não usavam o conceito “low cost”. Varig e TAM competiam em agradar seus clientes oferecendo comidas e bebidas ainda na sala de embarque. O cliente era recebido com tapete vermelho e recepcionado pelo presidente da companhia na porta do avião, entre outras regalias.
Naquela mesma época, eu era um recém formado em Engenharia da Computação e tinha que voar pelo Brasil para ajudar funcionários de empresas do setor de energia elétrica a se conectarem a um sistema pela Internet (hoje, essa ajuda parece quase uma insanidade, mas juro que não era naquele momento). Fazia, muitas vezes, viagens de bate-volta. Meus amigos que também costumavam voar com frequência preferiam a TAM e adoravam enumerar seus predicados, mas eu sempre escolhi a Varig. Tinha um motivo muito particular: eu adorava a revista Ícaro.
Eu lia a publicação de ponta a ponta e, muitas vezes, levava-a para casa. Dentre todas as matérias e artigos, um colunista, em especial, sempre me chamava a atenção. Ele contava sobre estratégia e como ser um gestor de TI. Imagine: eu ainda era um trainee com bagagem estritamente técnica e limitada, mas algo muito me atraía naqueles conteúdos.
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Muitos anos depois, já como gerente de sistemas, a área de TI onde eu trabalhava passou por uma avaliação feita por uma consultoria renomada, cujo líder do projeto e sócio da empresa trazia conceitos modernos de gestão e nos desafiava a pensar diferente daquilo que tínhamos como verdade. Lembro-me do dia em que, após colocar todos meus melhores argumentos, fui rebatido de maneira irrefutável por aquele consultor. Eu reconheci a necessidade de mudança, que não era pequena, e esse trabalho reposicionou a atuação da TI, tornando-se efetivamente estratégica, e iniciou uma transformação que, depois de alguns anos, virou realidade.
Outros anos se passaram e, um dia, me disseram que o fundador de uma determinada consultoria buscava por profissionais experientes para reforçar a sua equipe. Já tinha pensando em atuar como consultor muitas vezes, sem muito entusiasmo, mas, por acaso, tratava-se do mesmo consultor que, anos antes, havia direcionado a transformação na empresa em que eu trabalhava. Como já o conhecia, resolvi entrar em contato.
Esse telefonema se transformou em uma oportunidade de trabalhar junto a ele e a outros profissionais de grande experiência, atuando em projetos de diversos setores do mercado, portes e modelos de gestão distintos. Independentemente da empresa em que estivéssemos, o desafio era – e sempre seria – o mesmo: qual a estratégia de TI que deve estar por trás de todo e qualquer plano? Como essa estratégia garante o resultado que a empresa quer alcançar? Como não esquecer da estratégia quando o operacional sequestra, os projetos atrasam e mudanças inesperadas acontecem?
As respostas a essas perguntas sempre fluíram naturalmente daquele consultor, com uma tranquilidade que até hoje me surpreende, mesmo após anos de trabalho juntos. Aprendi que o “olhar de 10.000 pés” – expressão que ele costuma usar – e a sinceridade são, acima de tudo, fundamentais na relação com a equipe e com clientes.
Depois de quase cinco anos de atuação na Lozinsky e hoje sócio da consultoria, a Varig é só uma boa lembrança, assim como a revista Ícaro. Mas quis o destino que aquele colunista que tanto falava sobre gestão tivesse outras aparições em minha trajetória profissional – todas as que descrevi anteriormente.
O nome dele é Sergio Lozinsky.
Para mim, depois de 20 anos de experiência nesse mercado, acho que este é um ótimo momento para escrever. A ideia aqui é discutir os grandes desafios de negócios e tendências de adoção de TI, criar um ambiente de compartilhamento de conhecimento e, quem sabe, servir de inspiração para os outros profissionais.