alta performance, indicadores de desempenho

O paradoxo da alta performance em TI

O foco excessivo no cumprimento de indicadores pode gerar esgotamento das equipes e desânimo. Onde está o problema?

Por Ricardo Stucchi

 

Nada de tecnologia de ponta e aparelhos inteligentes. Para muitos corredores profissionais, o ideal mesmo é marcar o próprio ritmo com um velho relógio comum. Os dispositivos com GPS, monitores de frequência cardíaca e outros sensores que captam um batalhão de dados têm tudo para ajudar os atletas, mas não necessariamente o fazem. Para alguns, esse arsenal de indicadores cria um dilema: o foco no alto desempenho compromete o resultado, gerando esgotamento e desânimo.

O paradoxo da alta performance se dá não por causa da tecnologia em si, mas do uso excessivo dos dados. A cada quinhentos metros, o atleta dá uma olhadinha no relógio. A cada curva, uma nova checada nos números, que surgem em profusão. O relógio não faz mais tic-tac, mas reafirma a ditadura. E ele é implacável. Compromete, o que é pior ainda, a relação de prazer do indivíduo com aquele esporte.

O debate ganhou espaço – menciono aqui esta reportagem do Estadão, que traz o depoimento de atletas de alto rendimento, só como um exemplo – e tem um alcance maior do que a gente pode imaginar. Eu mesmo, como atleta amador, já tive desempenhos ruins em competições de bicicleta e me senti péssimo com isso. Já me frustrei com os meus números, para logo depois perceber que a vida segue. O que importa é seguir treinando e respeitando os próprios limites. Precisei de tempo, obviamente, para processar e amadurecer essa ideia. E levei ainda mais um pouco para entender que este não é um aprendizado limitado ao esporte.

O alto desempenho na TI

Ser profissional em algo pressupõe fortalecer os seus pontos fortes e aprimorar de forma contínua o seu desempenho. Na carreira, a experiência, a senioridade e o conhecimento acumulado ajudam você a resolver problemas mais rapidamente, a entregar projetos no prazo esperado e a encarar desafios complexos com uma certa tranquilidade. Outra capacidade que vem com o tempo envolve visão de futuro: o profissional não apenas lida com problemas, mas se antecipa a eles, evitando o que pode ser evitado e melhorando o desempenho geral da empresa em que trabalha.

Assim como no esporte, números, sozinhos, não definem carreiras e tais etapas de evolução. Aliás, indicadores muito bons, às vezes, escondem problemas nas entrelinhas. A busca constante por alta performance – pelo ritmo ideal, pela cadência, pelo menor tempo possível – pode oprimir o propósito daquela atividade. Por que a sua função é necessária? Qual foi o motivo para que a empresa escolhesse um caminho e não outro? Por que você escolheu trabalhar com TI? Essas perguntas não são respondidas com indicadores.

Em geral, escolhemos nossa carreira por uma questão de afinidades. É aquela pergunta que toda criança faz – o que você quer ser quando crescer? – e que é respondida de acordo com o que, desde cedo, aprendemos que nos dá prazer. É provável que você trabalhe com TI por gostar tecnologia. Ou não. Talvez, tenha sido levado por oportunidades que simplesmente foram acontecendo. De uma forma ou de outra, todos nós desejamos extrair algum prazer de nossa atividade profissional.

Acontece que, no automatismo do dia a dia e na busca constante por bater números e metas, o prazer se vai. Fica apenas a profissão.

Eu vejo pessoas que tentam construir um plano de carreira detalhado, de forma minuciosa, como se a vida fosse uma corrida de obstáculos cujo único objetivo é chegar ao final da prova, no menor tempo possível, superando todas as barreiras. Mas como você quantificaria um dia em que saiu animado para trabalhar e outro, mais difícil, em que tudo que você queria era ficar em casa e descansar? 

Se eu acordo me sentindo mal no dia de uma prova importante de ciclismo, não há muito que eu possa fazer. O mesmo pode acontecer no trabalho com uma reunião importante ou evento crítico. Porém, em geral, é possível avaliar: o que eu posso fazer hoje, já que não me sinto bem para encarar aquelas determinadas tarefas que estavam previstas? Consigo trabalhar, mas me reorganizando um pouco, ou o melhor que posso entregar hoje já é o suficiente?

Esse é o tipo de coisa que nenhum indicador ou meta vai te dizer, só mesmo a percepção e o autoconhecimento.

Para jogar seu melhor jogo e garantir a melhor performance para a equipe, é fundamental entender que ninguém está bem o tempo todo. Indicadores são ferramentas valiosas, mas não podem escravizar o bom senso, a inteligência e os limites das pessoas. No esporte ou na carreira, aprendi que o melhor é usá-los como tendência, não como verdade absoluta.

artigo assinado por

Ricardo Stucchi

Sócio-consultor
Mais de 20 anos de atuação na área de TI. Trabalha intensamente para dar respostas a problemas complexos dos clientes.
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