Por Ricardo Stucchi
O termo em inglês já demonstra a pompa: squad significa esquadrão. Na linguagem ágil, representa uma força tarefa com autonomia e horizontalidade de gestão, e que é montada pela empresa para estudar certos problemas ou desafios, criar soluções e entregar determinados projetos. Os squads ficaram tão populares que grandes empresas costumam ter vários deles – e se orgulham disso, como se o desenrolar dessa estratégia fosse, em si, um resultado.
Alguém por aí se identifica?
Considere o recorte da tecnologia da informação, onde a maioria dos squads são formados por equipes envolvidas em desenvolvimento de sistemas próprios. Essas soluções nascem em empresas que lidam com um nível de customização de negócio muito forte. Por isso, um squad de TI exige pessoas com perfis variados, desde profissionais que entendam bem o negócio, aos que consigam organizar o trabalho. Requer, ainda, gente para codificar e testar a solução, preenchendo todas as etapas até que o novo sistema seja colocado no ar.
Agora, vamos fazer uma conta simples: se dedicarmos sete profissionais, suponha, com salários de R$ 7 mil por mês (mais encargos) cada, um único squad pode custar facilmente um milhão de reais no ano. E posso dizer que esse raciocínio, que parte de minhas observações de campo, em empresas de diversos setores, ainda tende a ser conservador. Há corporações com vinte, às vezes trinta squads funcionando simultaneamente com uma média de custo anual bem mais alta.
A adoção cada vez mais frequente dos squads, que eventualmente acompanha o tal do “orgulho de possuir”, como eu disse, está ligada ao conceito de agilidade empresarial. E essa proposta veio para mudar um paradigma.
No início dos anos 2000, a principal metodologia utilizada para desenvolvimento de sistemas instruía que uma empresa deveria prever todas as necessidades daquele projeto. Quem viveu essa fase lembra que demandava muita análise e planejamento para justificar o que estava sendo especificado.
Na prática, mesmo com todo esse esforço, era impossível pensar em tudo ou não modificar questões pontuais. Mudanças identificadas posteriormente geravam um grande ruído e inúmeros problemas de gestão. Só que, com o conceito da agilidade, esses ajustes de rota passaram a ser não apenas permitidos, mas algo lógico e esperado, ainda mais quando estamos falando de tecnologia.
Faz sentido, claro. Num mundo em rápida transformação, ter agilidade para se adaptar é fundamental na sobrevivência do negócio. Nesse contexto, os squads são ferramentas importantes. Não há, portanto, nada de errado com elas.
O problema hoje é que a situação se inverteu de tal forma que algumas empresas não planejam mais nada; elas só organizam o que vai ser entregue no curtíssimo prazo, no próximo sprint. E, com isso, muita coisa quem nem precisava ser feita está consumindo generosos orçamentos por aí.
Em primeiro lugar, é preciso quebrar o ciclo vicioso e mecanizado do “alguém pede, eu faço, alguém pede, eu faço” e cuja única preocupação é manter uma produtividade que, muitas vezes, não faz sentido e não gera valor real. Há squads que passam a procurar ativamente uma demanda que os justifique, propondo estudar melhorias que não estavam no escopo original do projeto. Trata-se de um movimento inflamado de manter os squads vivos a qualquer custo, e que passa a ser visto como positivo simplesmente porque é investimento em tecnologia.
Um squad, sim, produzirá frutos – softwares, soluções, melhorias. A questão é analisar o custo/benefício para além da simples entrega de resultados, avaliando o impacto para a empresa e para o valor do negócio. E algumas perguntas podem ajudar você nisso:
As perguntas acima são genéricas. Com um pouco de conhecimento real do negócio que o squad está se propondo a ajudar, a avaliação de retorno pode ficar ainda melhor. E deve: no momento econômico atual, o dinheiro está mais caro.
O orçamento de tecnologia nunca é pouco, e sempre é debatido. Porém, tivemos nos últimos anos uma fase em que os investimentos para squads eram recebidos pelos conselhos simplesmente como algo que precisava ser feito.
Esse cenário está mudando, ou já mudou para alguns. Os boards estão querendo saber o que foi feito com essas verbas. Quanto custou a ação e se ela está gerando resultado. Então, se você conseguir responder a essas perguntas, há um motivo, mesmo, de orgulho. Caso contrário, há uma grande chance de você estar queimando seus investimentos em tecnologia sem ganhos concretos para o negócio.