Software como serviço: sua gestão financeira está preparada?

Em bate-papo na sede da Bio Ritmo Smart Fit em São Paulo, o CFO Thiago Borges detalha impactos da escolha do modelo para o novo ERP da rede de academias

Há certos caminhos que percorremos na TI que, em geral, não têm volta. Esta foi uma das principais conclusões tiradas de um bate-papo com Thiago Borges, CFO da Bio Ritmo Smart Fit, quinta maior rede global de academias do mundo, que acaba de contratar um ERP por assinatura. Compartilho aqui alguns trechos da nossa conversa:

Ricardo Stucchi: O uso de software como serviço (software as a service, ou SaaS) vem se tornando cada vez mais comum no mercado – só em 2018, movimentou US$ 186,4 bilhões no mundo, com crescimento de 21,4% em relação ao ano anterior, de acordo com o Gartner. Segundo a mesma pesquisa, o modelo de SaaS deve atingir 45% do total de gastos previstos com aplicativos até 2021. Esse formato não ataca somente uma questão tecnológica, mas traz um impacto – muitas vezes, invisível aos olhos da TI – para a gestão financeira da empresa como um todo. Como você vê isso, Thiago?

Thiago Borges: “Na gestão financeira, o principal impacto esperado quando se opta por um software como serviço está relacionado à mudança de Capex (despesas de capital) para Opex (despesas operacionais). É preciso avaliar com cuidado a escolha do modelo e a forma como ele influencia o fluxo de caixa. A decisão está em investir um valor alto no início e menor no futuro, ou valores médios ao longo de todo o tempo. Não custa lembrar que, mesmo com a tradicional aquisição da licença de um software, há uma taxa de manutenção fixa entre 15% e 20% que deve ser paga anualmente, o que também é visto no fluxo de caixa como despesa operacional.

Outro impacto é em relação aos impostos. As despesas operacionais são dedutíveis do Imposto de Renda (IR) no mesmo ano de sua realização, enquanto o Capex é dedutível ao longo do período da depreciação. O custo com a infraestrutura necessária para sustentar cada modelo também é bastante diferente. Então, é preciso fazer as contas e ver o que se adequa melhor ao cenário de cada empresa.”

Ricardo Stucchi: Ainda da perspectiva financeira, quais são os ônus e os bônus da migração de um modelo convencional de aquisição de software para o modelo como serviço?

Thiago Borges: “A grande questão não é calcular ônus ou bônus. As empresas não fazem mais essa conta no momento da tomada de decisão por qual modelo será adotado, o tradicional ou por assinatura, porque o mercado só está oferecendo a opção por assinatura. É um caminho sem volta, e é questão de tempo para que todas as empresas estejam no mesmo patamar. A decisão é, e sempre foi, sobre qual o melhor software para o modelo da companhia: aquele que um dia deixará de ser atualizado, mas que você adquire e tem controle sobre ele dentro de casa, ou aquele que tem obrigação de evoluir com atualizações, mas que mantém os dados na nuvem.

Acredito que o primeiro movimento do mercado de TI nesse sentido não foi o do SaaS, mas sim o de infraestrutura como serviço (infrastructure as a service – IaaS). A nuvem permitiu economizar milhões em backup e servidores. Hoje tudo está na nuvem, que barateou muito o custo. Tudo faz parte de uma tendência de modelos de negócio como serviço, que alcançam carros, com o Uber, patinetes, hotéis e por aí vai. Antes víamos o valor das coisas no ativo, no hardware, no bem. Hoje o que conta muito mais é a experiência do cliente.”

Ricardo Stucchi: Diante desse caminho sem volta, quais são os desafios de negócio que você acredita que deverão ser vencidos para se adaptar ao modelo de software por assinatura?

Thiago Borges: “Trocar o software dentro de uma empresa é uma decisão enorme. Envolve investimentos, há complexidade de implantação e, em geral, as áreas envolvidas fazem parte da coluna dorsal da companhia. E, muitas vezes, os resultados dessa medida não são facilmente mensuráveis. Por mais que façamos contas e busquemos o valor presente líquido (VPL), ou a forma como o software vai se pagar, é difícil quantificar, após implantado, o benefício que o novo ERP, isoladamente, trouxe.

Por exemplo, a empresa pode buscar um software com objetivo de diminuir perdas de estoque. Mas, além da tecnologia, outras variáveis podem impactar nessa diminuição, como a reorganização natural dos processos internos que ocorreu com a adoção do sistema. Neste caso é fácil ver que a conta fecha, mas não apenas por conta do novo ERP, e sim pelas mudanças que ele proporciona. Há outros exemplos que são menos tangíveis, pois não há economia clara, mas há um novo gasto que foi evitado.”

Ricardo Stucchi: A Bio Ritmo Smart Fit acabou de fechar a aquisição de um ERP por assinatura. Por que optou por essa contratação e quais resultados são esperados?

Thiago Borges: “No nosso caso, já havia uma certeza de que o software deveria estar na nuvem antes mesmo da aquisição. Se pararmos para pensar, a própria Smart Fit funciona as a service. Essa maturidade do nosso modelo de negócio foi um facilitador.

Nós crescemos em vários países e precisávamos consolidar os resultados para facilitar o acesso às informações e a mobilidade dos recursos, garantindo, assim, maior velocidade na tomada de decisão. O modelo de SaaS ainda reduz a preocupação com manutenção ou atualizações e possibilita um mínimo de customização, de forma a facilitar a troca de informações entre os países nos quais atuamos – algo importante na nossa companhia.”

artigo assinado por

Ricardo Stucchi

Sócio-consultor
Mais de 20 anos de atuação na área de TI. Trabalha intensamente para dar respostas a problemas complexos dos clientes.
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