Comitê de TI: difícil com ele, muito pior sem ele

Para que órgão assuma papel relevante na transformação dos negócios, TI deve estar alinhada à estratégia – o que depende diretamente do nível de maturidade do departamento

Por Enéas Rodrigues

 

 “Liderança é a arte de dar às pessoas uma plataforma para disseminar ideias que funcionam.”

Seth Godin, escritor norte-americano

 

O comitê de TI é um dos principais agentes da transformação digital. É nas reuniões desse grupo que a estratégia do negócio e os projetos de tecnologia se alinham,  com estabelecimento de ações prioritárias, bem como prazo e orçamento para executá-las. Ao observar o mercado, porém, percebo que o comitê não recebe a devida atenção de algumas lideranças corporativas, que não enxergam o valor dos debates promovidos nessas reuniões. Os encontros, quando saem do papel, findam em poucos meses sem promover mudanças efetivas nos negócios. 

Há diferentes explicações para esse cenário, mas todas elas estão, de alguma forma, relacionadas à maturidade – ou imaturidade – da gestão de TI. Quando a TI apresenta certo grau de imaturidade, não há um processo integrado de soluções – o que resulta num constante retrabalho, porque o que foi solicitado é uma coisa e, o oferecido, outra.

Quando, em um cenário como esse, se implanta um comitê, as reuniões se concentram em aspectos técnicos e operacionais que dificilmente alcançam a estratégia do negócio. Discutem-se projetos pequenos, com execução de curto prazo e baixo investimento – o típico apagar incêndios. As altas lideranças perdem o interesse pela pauta dos encontros e, em poucos meses, deixam de frequentar as reuniões. Assim, acham difícil ter um comitê de TI, sem perceber que é muito pior para os negócios da era digital não tê-lo.

O foco das discussões do comitê não é esmiuçar detalhes da operação da TI, mas sim debater questões como a viabilidade orçamentária e de prazos, além do retorno de investimentos e da mitigação de risco. 

Está nas mãos dos gestores de TI construir uma pauta atrativa e de relevância para o futuro das empresas. Sem ela, o comitê é apenas uma reunião operacional, sem qualquer potencial de transformação dos negócios. E trazer temas atrativos para essa reunião requer do líder de TI o conhecimento do setor em que se está inserido – fundamental para indicar quais são os projetos que, de fato, devem ser conduzidos com vistas aà promover mudanças que importam. Essas ações são normalmente de longo prazo, entre dois e cinco anos, e abrangem grande parte dos processos empresariais, de forma a alterar profundamente a forma de comprar, vender, produzir ou entregar um serviço. 

Quando há mais maturidade, o comitê de TI naturalmente se torna um espaço para promover a gestão das demandas com foco em inovar, já que, conhecendo o negócio, é possível antecipar as necessidades da empresa. A reunião vira um espaço para resolver dores por meio da tecnologia – o que interessa bastante às altas lideranças de qualquer setor.

Para alcançar esses resultados, as reuniões devem ser feitas mensalmente, em especial enquanto a empresa passa pelo processo de transformação digital. A composição do órgão também é importante: deve ser formado pelo líder de tecnologia da empresa, em geral o CIO, e também pelos altos executivos ligados às áreas de negócio, que têm poder decisório e visão de onde a empresa deve estar no futuro. É possível incluir, ainda, consultores externos da companhia.

Montar um comitê maduro e estruturado é algo que leva tempo e exige paciência, porque é preciso, primeiro, organizar a casa. Antes de ser proativa, inovadora e alinhada aos negócios, a TI deve organizar suas questões operacionais, como necessidades de investimento em infraestrutura, estabilização de sistemas e pessoal qualificado – desafios que podem apresentar alto grau de complexidade. Mas é apenas com processos estáveis e maduros que se abre espaço para olhar o estratégico. Essa transformação também acontece quando o comitê de TI recebe a devida atenção dos gestores do negócio. Se o departamento é visto apenas como custo e não tem autonomia,  dificilmente as reuniões avançam – e, muitas vezes, sequer deixam o plano das ideias.

As resistências podem estar de ambos os lados, por diferentes motivos, mas, quando vencidas, otimizam o processo de tomada de decisão e pavimentam o caminho para que a transformação dos negócios aconteça.

 

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