Os resultados do Estudo “Antes da TI, a Estratégia” deste ano apontaram algumas diferenças importantes em relação às edições anteriores, como não poderia deixar de ser: a crise econômica que tomou conta do Brasil ainda em 2015 teve suas maiores consequências neste ano, quando as incertezas aumentaram, o ambiente político tornou-se instável e o grau de confiança dos empresários, dos investidores e da população caíram significativamente, literalmente paralisando alguns setores da Economia.
No IT Forum de abril conduzi três Intercâmbios de Ideias para discutir os resultados do Estudo, e para apontar possíveis caminhos para a TI das empresas diante desse cenário. No total, quase metade dos CIO’s presentes participaram dessas discussões, o que representa uma amostra significativa das maiores empresas atuando no Brasil.
As respostas de duas perguntas do Estudo – que tratam sobre os maiores riscos internos e externos percebidos como ameaça aos planos estratégicos do Negócio – chamaram a atenção pela mudança de percepção que os CIO’s demonstraram em relação às edições anteriores: o componente “gente”, sempre percebido como o maior risco na realização dos planos empresariais – pela dificuldade de contratar e reter os melhores perfis – caiu substancialmente em importância, dando lugar aos componentes que falam de lucratividade, estagnação e restrições orçamentárias.
Pode parecer natural uma reação como essa diante do triste cenário econômico que vivemos, mas, ao mesmo tempo, demonstra uma visão de curtíssimo prazo dos executivos que responderam ao Estudo. Embora o momento seja o de enxugar quadros de pessoal, dispor de profissionais qualificados e motivados será sempre um requisito fundamental para que uma empresa alcance os seus objetivos de negócios.
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Particularmente a TI – sendo cobrada por reduzir custos (muitas vezes via critérios questionáveis tecnicamente) e, ao mesmo tempo, ampliar a automação dos processos e produzir informações que permitirão tomar melhores decisões – precisa de profissionais de gabarito, que entendam as demandas e oportunidades do negócio, e que sejam capazes de gerir/desenvolver soluções inovadoras e com valor agregado. Estamos no período dos “poucos e bons” que vão “salvar o dia”, em todas as áreas do negócio, não somente na TI.
A suposição de que o mercado está “inundado” de bons profissionais que foram demitidos de suas companhias não é totalmente verdadeira. Há um maior grau de seletividade na preservação das posições – seja pela capacidade que esses profissionais possuem para lidar com maiores responsabilidades e acúmulo de trabalho, seja para aproveitar a janela da crise para criar musculatura empresarial para retomar com mais força à frente.
Outra discussão que gerou polêmica no IT Forum foi a necessidade de incluir na agenda da TI o tema “Startups”: o Estudo mostrou que a maioria das grandes empresas ainda não tocou nesse assunto, enquanto uma parcela pequena está investigando seriamente esse canal de inovação.
Nos últimos anos ficou claro que é uma boa prática criar um “ecossistema” de TI – principalmente nas grandes organizações – que inclua fornecedores e terceiros capazes de assumir parte do conhecimento e da responsabilidade pelos serviços de TI, pela Arquitetura Tecnológica que suporta os negócios, e até como representantes diretos da TI em algumas atividades (Service Desk sendo a mais popular). Agora, estamos falando de ampliar esse ecossistema para as questões de Pesquisa & Inovação, aproveitando a nova cultura (e tendência) de empreendedorismo entre os jovens (principalmente), mas também de perda do “glamour” do mundo corporativo, hoje visto com reservas como um bom lugar para fazer uma carreira de sucesso – a percepção é mais de um teste de sobrevivência na selva.
São várias as razões para incluir startups na agenda de TI:
Mais um ponto de destaque do Estudo foi a constatação de que as “novas” tecnologias – Big Data, Cloud, Redes Socias, etc – ainda estão em fase de entendimento e comprovação nas grandes empresas. A maioria dos CIOs está atenta a essas questões, mas muitos ainda precisam validar se essas tecnologias realmente agregarão valor aos negócios de suas empresas.
No Estudo há uma tabela que mostra claramente como essas e outras soluções (inclusive ERP) estão sendo percebidas pelas TI’s das organizações. O fato de que algumas tecnologias (ainda) não se comprovaram não significa que devam ser descartadas, necessariamente. É justamente aí que entra a Inovação e a Visão Estratégica de TI. É preciso ter humildade para avaliar se os caminhos escolhidos para explorar as tecnologias foram adequados ou suficientes; também é necessário perguntar-se todo o tempo se os resultados não estão sendo direcionados pela resistência à mudança, impulsionada pela dificuldade em romper com o passado, principalmente se este for uma história de sucesso.
Voltando ao título do artigo – UM ANO PARA TESTAR A SITUAÇÃO REAL DA GOVERNANÇA E DO PAPEL DE TI NA EMPRESA – esses – e outros pontos que o Estudo aponta sobre o perfil do próprio CIO, sua equipe, governança de TI, relacionamento com os Fornecedores, etc – comprovam que nunca foi tão crítico reafirmar o papel estratégico da TI no negócio.
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Podemos dizer que os Intercâmbios de Ideias permitiram dividir o grupo de CIOs em dois: os que estão “surfando” grandes oportunidades, porque suas empresas estão sendo beneficiadas pela crise, e os que estão “sofrendo” diante de um cenário de cortes e pouca tolerância com a TI.
Em ambos os casos, saber posicionar a TI estrategicamente determinará o futuro da área de TI (e do CIO) na empresa:
É sempre bom lembrar que – apesar da turbulência, dos desafios diários e até por vezes da falta de reconhecimento – a TI ainda é um dos melhores lugares para se estar agora.