Fundos de private equity: saiba como a gestão de TI se conecta com cada fase da empresa investida

A TI tem papel determinante no sucesso – ou fracasso – de uma aquisição; e os investidores devem estar atentos a diferentes elementos da área em cada etapa do processo

Por Ricardo Stucchi

Em qualquer segmento de negócios, a TI envolve riscos que podem impactar seriamente o valor de mercado de uma empresa. E quanto mais sofisticado o modelo da área e mais complexa a operação, maiores serão esses riscos. Por isso, um fundo de private equity que decide investir em uma organização precisa ter um olhar atento para o planejamento e as operações de TI em cada etapa desse investimento – inclusive antes da aquisição.

Primeiro, devo explicar que empresa investida é como se convencionou chamar a companhia que recebe esses investimentos de um fundo de private equity, ou seja, um fundo de investimento que investe majoritariamente em organizações de capital fechado, que não são listadas em bolsa de valores. Com a tecnologia cada vez mais envolvida na operação, avaliar como a área de TI está organizada e quais são seus planos faz toda a diferença em uma transação na qual o objetivo é aumentar o valor de mercado do negócio o máximo possível em um período determinado. 

Essa avaliação pode ser feita por diversos agentes. Há ocasiões em que o fundo decide por contratar uma consultoria especializada. Em outras, vale-se da expertise da TI de uma empresa previamente adquirida. E pode até mesmo adotar uma ação conjunta desses dois canais. 

O que não é uma boa opção é simplesmente ignorar a TI e essa atitude não é incomum: muitos fundos estimam que existe suficiente margem de segurança para resolver possíveis problemas depois da aquisição. Embora nenhum deles acredite que não haverá nada a mudar na TI, há aqueles que avaliam que, pelo histórico de outras investidas e por outros projetos de natureza semelhante, já é possível deduzir o que precisará ser feito. 

Mas deixar para descobrir todos os gargalos, necessidades de melhoria e noções de investimento mais tarde é um risco desnecessário e pode resultar em uma necessidade de investimentos muito diferente da estimada. Além disso, representa uma perda de tempo, pois quando já se sabe desde o início o que precisa ser feito, ganha-se um tempo precioso na hora de colocar em prática as ações a serem executadas.

Dessa forma, vale examinar os pontos de atenção pertinentes a cada uma das três principais fases de uma empresa investida:

1. Diligência prévia

Na primeira etapa, conhecida como due diligence, ou diligência prévia, o olhar do fundo é limitado. Como a empresa não sabe se sua aquisição vai se consumar, ela geralmente impõe uma restrição de acessos, deixando algumas questões para serem reveladas apenas após a compra. Ainda assim, é possível e necessário entender sobre quais bases a tecnologia está instalada, quais os riscos que essa arquitetura oferece ao negócio e que tipos de investimentos serão necessários para alçar a empresa para onde o plano de negócios almeja.

Nesse momento, o objetivo deve ser entender se os sistemas utilizados atendem o negócio, se são coerentes com o porte da empresa, atentar para a possível obsolescência dos equipamentos, se a segurança da informação é sólida, se as licenças e marcos regulatórios estão em dia, se a infraestrutura faz sentido em escalabilidade, prontidão e disponibilidade. É indicado, ainda, conhecer o time e mesmo avaliar o quanto ele está dimensionado de maneira adequada.

Existe um tempo entre a diligência prévia e o início do projeto, no qual a empresa já poderia antecipar muitas ações, como a regularização de licenças e contratações, por exemplo. Usualmente, é desejável que a tomada de controle, pelo fundo, aconteça o mais cedo possível, e, quando essa avaliação de TI é feita antes da compra, isso acontece de forma mais ágil. 

2. Aquisição

Nessa segunda etapa, a empresa não impõe mais restrições e o fundo já tem acesso à informação. Dessa forma, pode se conhecer mais do que apenas os riscos: é possível levantar necessidades mais amplas, bem como entender claramente o objetivo do fundo com essa aquisição: se a ideia é valorizar a empresa para ser vendida futuramente ou se a preferência é por estimular um crescimento natural, entre outras possibilidades.

É nesse momento que o fundo consegue montar o plano de TI, bem como o time que será necessário para executá-lo. Essa análise é bastante complexa, pois os direcionadores do fundo influenciam diretamente o que deve ser tratado e com que prioridade; novamente, a ação de uma consultoria especializada pode ajudar. Temas como substituições ou implantações de novas plataformas de tecnologia, estratégia de uso de infraestrutura tecnológica e ações de governança de TI e segurança da informação são discutidas para obter-se o melhor retorno possível.

Em meio a tantas discussões técnicas, a tendência é subestimar questões como a cultura da empresa adquirida ou a cadência de trabalho que costuma vigorar. Por isso, essa etapa é quando o fundo precisa determinar a intensidade que o projeto de tecnologia terá – a hora de decidir quantas pessoas serão alocadas, que processos serão empregados.

A maturidade da empresa também fica explicitada quando se faz essa avaliação, e não apenas para a TI. Por essa razão também é importante já ter feito a análise de riscos na etapa anterior, e não agora: nesse caso, as questões mais emergenciais já estarão em andamento ou até mesmo resolvidas, e o fundo pode se concentrar nas transformações mais estratégicas e profundas.

3. Incorporação e execução

Por fim, a terceira etapa envolve a incorporação, com a subsequente execução do plano de TI. O grande desafio aqui é garantir que o plano não saia do previsto e todo o projeto mantenha sua essência. Em outras palavras, a TI deve caminhar tendo sempre a visão estratégica do negócio como norte.

Nessa fase os investimentos são realizados, o projeto ganha corpo e as mudanças começam a acontecer. Para isso, uma gestão forte é fundamental, pois os projetos que precisam ser executados usualmente são complexos e devem ser vistos sempre como parte de um programa maior.

Refinamentos são sempre necessários e, em qualquer mudança, a tendência dos envolvidos é querer retornar ao status quo, até porque a execução é a etapa que envolve o maior número de pessoas. A operação sempre tende a corromper o plano e, se a gestão não tiver esse foco estratégico, ele se torna uma lista de iniciativas individuais e desencontradas. 

Manter o foco no plano e na execução é o que fará a empresa investida trazer o retorno esperado da aquisição feita pelo fundo e, na prática, vemos que o apoio especializado externo auxilia, e muito, para que isso aconteça.

Leia mais:

Empresa investida: como e por que manter o plano de TI em meio à crise

Fusões e aquisições: por que aproveitar o melhor dos mundos não dá sempre certo

artigo assinado por

Ricardo Stucchi

Sócio-consultor
Mais de 20 anos de atuação na área de TI. Trabalha intensamente para dar respostas a problemas complexos dos clientes.
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