*Por Fábio Ferreira
A compra de um imóvel, e de outros tantos ativos, ficará mais fácil. Se hoje toda transação imobiliária, por exemplo, envolve um momento de certa insegurança, com o comprador fazendo a transferência do dinheiro antes da propriedade ser repassada para ele, isso está prestes a mudar: o Banco Central já começou a testar o Drex, a moeda digital brasileira, que tem previsão de entrar em vigor no segundo semestre de 2024.
Se o Pix já revolucionou as transações entre grandes empresas e padarias, vendedores ambulantes e caixas de supermercados, o Drex terá um efeito ainda mais expressivo. A transformação proposta pela moeda digital está na origem da própria sigla – D para digital, R para Real, E de eletrônico e X para representar a modernidade – e pressupõe a mesma facilidade do Pix, porém, é uma moeda e pode ser transferida de carteira para carteira, sem envolver uma instituição bancária.
Fonte da imagem: Banco Central do Brasil
Com o Drex e os contratos inteligentes, será possível fazer uma transação financeira e o repasse de uma propriedade ao mesmo tempo, o que anima o mercado imobiliário, para manter o exemplo. Mas não só: outros setores da economia devem começar a se preparar para a grande mudança que a nova tecnologia deve trazer. E é sobre esse impacto massivo que precisamos falar.
O Drex, que começou a ser desenvolvido em 2022, não está sozinho. Cerca de 130 países estudam a implementação de CBDCs – sigla em inglês para Central Bank Digital Currency, ou Moeda Digital Emitida por um Banco Central. A China é o país mais avançado do mundo quando o assunto é CBDC, que foi lançado por lá em dezembro de 2022, mas com circulação restrita a algumas cidades. Desde então, o Yuan Digital ganhou terreno.
Dez meses depois da estreia, a moeda já era aceita por quase seis milhões de comerciantes em 26 cidades diferentes. As transações cresceram 18 vezes em valor e atingiram 250 bilhões de dólares, número expressivo, mas ainda tímido para o tamanho da economia da China. Segundo o Banco Central do gigante asiático, o valor médio da transação com o Yuan Digital foi de 260 dólares.
Em outubro do ano passado, o Brasil realizou a primeira transação comercial em Yuan Digital, abrindo um novo caminho para as exportações. A transferência, que repercutiu nas imprensas dos dois países, marcou uma importante página da desdolarização no relacionamento entre os países.
Tanto os CBDCs como as criptomoedas, como o Bitcoin, são recursos financeiros digitais que usam blockchain, um mecanismo de banco de dados descentralizado e criptografado. Mas, ao contrário do Bitcoin e de outras criptomoedas públicas, o Drex será lastreado e emitido pelo Banco Central. E essa é a grande diferença.
Como citei no começo do artigo, o mercado imobiliário é um dos mais animados com a chegada do Drex, mas não é o único que já está se preparando. O impacto deve ser sentido em todo tipo de negócio que lida com B2C, o consumidor final. Vale para a venda de carros, para grandes transações financeiras e até para títulos do tesouro nacional, que poderão ser trocados pelo Real Digital.
Com o Drex, toda a questão de segurança da informação também precisará ser aprimorada, com vigilância e investimentos constantes. O risco está em onde a carteira digital será armazenada e como evitar que ela seja furtada. Afinal, bater uma carteira digital vai ser o equivalente a roubar um carro forte cheio de dinheiro. O prejuízo pode ser gigantesco, como o de um hacker que quebra a senha de um servidor, mas com um grande diferencial: uma vez dentro do ambiente, os criminosos já estarão em contato direto com o dinheiro. Basta transferir.
Além da preocupação com a segurança, as empresas precisarão entender e aplicar os smart contracts e entender como os pagamentos via Drex impactarão a logística de entrega de produtos.
Nos testes já em andamento no Banco Central, há certamente um grupo de organizações que está na dianteira das discussões sobre o Drex e que deve lançar as primeiras soluções corporativas e tecnológicas, mas muitas outras virão. De novo, vale a analogia com o Pix: no começo, muitos lugares não aceitavam a transação, mas hoje quase todos se adaptaram e qualquer padaria ou taxista tem um QR code para essa modalidade de pagamento.
Outra mudança sensível envolve a questão fiscal e contábil. Ao ter uma moeda digital controlada pelo Banco Central, o governo saberá exatamente onde o dinheiro está. Essa mudança, não tenho dúvidas, terá impacto na arrecadação de impostos e exigirá mais atenção com a contabilidade de empresas, em especial aquelas que praticam o famoso caixa dois.
Por fim, o Drex tende a mudar até o modelo de negócio de algumas companhias. Um bom exemplo vem de empresas especializadas no transporte de valores em carros-fortes. A conta é simples: se o Pix já resultou numa queda de circulação de dinheiro físico, o Drex deve também deve causar – e ampliar – esse efeito. Com isso, tende a diminuir a busca por transporte seguro de moeda em espécie. Pensando nisso, há empresas da área que estão criando soluções digitais para o transporte de ativos.
Cibersegurança, modelo de negócio, contabilidade, logística: o Drex vai mudar muita coisa. A pergunta é: sua empresa já está se preparando para isso? Se você ainda não pensou no assunto, é hora de começar.