carreira de CIO, IT Forum Trancoso, encontros de CIOs

Quem sabe o que realmente está se passando na cabeça do CIO?

O que aflige esse profissional? Quais são os seus motivadores e o que tem vivido no dia a dia, na prática, para além dos hypes e da teoria? Esta é uma percepção baseada nas conversas do IT Forum Trancoso

Sergio Lozinsky

 

Não há forma melhor de descobrir o que está se passando na cabeça de um CIO do que perguntar diretamente para ele. E o IT Forum Trancoso, que ocorreu entre os dias 19 e 23 de abril, reunindo 120 líderes de TI, foi um momento de captar percepções sinceras. No evento, mediei sessões de temas como inovação e transformação digital. Cibersegurança e inteligência artificial foram alguns dos assuntos que mais geraram debate e curiosidade. E, embora esses tópicos sejam mesmo fundamentais, quero dividir com você alguns entendimentos mais sutis.

Vale destacar que o grupo dos CIOs é um dos mais unidos e organizados que conheço. Há um forte sentimento de pertencimento e uma tentativa sincera de ajudar os colegas, características que ficam ainda mais evidentes em eventos assim. É por isso que tais encontros são de tamanho valor, não apenas em função do conteúdo oficial, mas também da troca de experiências que ocorre fora dos palcos. Esse aspecto faz com que se crie um ambiente seguro e amigável para conversas francas.

Posso resumir as minhas percepções em três aspectos e, então, irei aprofundá-las:

1) A chegada abrupta de novas tecnologias cuja eficácia – e mesmo aplicabilidade – ainda são nebulosas, como AI e metaverso.

2) O sentimento de certa frustração pelo fato de que a TI – responsável por um dos aspectos mais estratégicos do negócio, a tecnologia – ainda não desfruta do posicionamento que deveria ter na empresa, justamente em função da criticidade que representa para o sucesso e a competitividade da organização.

3) O próximo passo – o que fazer quando esgotar-se o tempo na posição atual de CIO na empresa em que trabalha. A “dança das cadeiras” segue ativa no mercado de tecnologia, e essa é uma realidade que um evento como esse mostrou de forma clara, com alguns CIOs presentes já em processo de transição.

O que parece comum entre os CIOs é a atenção aos assuntos que borbulham, mas que exigem mais pensamento crítico e cuidado do que as teorias emocionadas pregam. A inteligência artificial, por exemplo, tem sido explorada – pela mídia, por “especialistas”, e mesmo por filósofos – de forma exaustiva, passando pelo entendimento de que é a maior revolução tecnológica em décadas e pelas perspectivas sombrias para o mercado de trabalho e a privacidade. Todo mundo tem uma opinião sobre o assunto. Mas investir em uma tecnologia promissora tornará a organização, necessariamente, próspera e eficiente?

Há dúvidas – e ainda bem que elas existem. A decisão, qualquer que seja, não pode ser tomada por impulso ou pressão. Deve ser analisada com cautela, observando o que se aplica para a empresa em questão. Um bom exemplo é a tecnologia cloud. Quando surgiu, a promessa era que a migração para a nuvem diminuiria custos e seria mais vantajosa que os data centers, permitindo fazer mais com menos. O tempo passou e a realidade não é mais a mesma, apesar da tendência e de algumas vantagens técnicas comprovadas. E tem CIO investindo novamente em data centers ou em soluções híbridas, por uma questão de melhor equilíbrio na solução do processamento das operações.

A adoção de qualquer nova tecnologia precisa ser estudada, analisando como a empresa conseguirá ganhar dinheiro e ter retorno sobre o investimento. É preciso avaliar se a companhia terá suporte adequado para a nova tecnologia e quanto isso custará, evitando dar um passo maior que a perna. 

Discussões importantes envolvem também respeitar a LGPD e cuidar da cibersegurança, já que nunca houve tanta vulnerabilidade a ataques e, agora, toda nova tecnologia demanda a introdução de novas questões e processos de segurança, alguns inéditos ou pioneiros. Em caso de ataque, o CIO precisa estar preparado para reagir e sobreviver ao minuto seguinte, minimizando os danos – aliás, esta é uma pergunta padrão hoje em qualquer conselho de administração.

Outra grande preocupação que afeta os CIOs é como se posicionar dentro da empresa como um executivo de TI. Para alguns, paira uma certa desilusão por não terem alcançado a confiança e a autonomia desejadas. É um fator até mesmo psicológico, que impacta o dia a dia desses profissionais. Ouvi diferentes tipos de reclamação, passando por limitações ou mesmo impedimento de aplicar o orçamento de tecnologia, além de dificuldades em contratação de assessoria – “a nossa TI não deveria ser capaz de resolver sozinha?”. O dilema da governança de TI frente à lista de demandas (que não para de crescer sem priorização adequada) é outro grande problema.

A lista de adversidades não termina aí. O CIO chega a não participar de comitês que estão decidindo questões estratégicas – como aquisições, expansão de produtos e serviços, internacionalização – e que certamente terão impacto na TI. Quando for informada sobre os planos, ela não estará preparada para atender com prontidão as novas iniciativas.

Por fim, um assunto que preocupa os executivos de TI envolve o futuro. O que fazer depois daqui? Continuar como CIO ou tentar outro caminho? Ao contrário de alguns anos atrás, em especial antes da pandemia, existe a percepção de que a posição de CIO não precisa ser o fim da linha. É possível seguir e criar outros caminhos, encarar novos desafios. Há uma “febre” para obtenção de certificação como conselheiros, o que abre oportunidades para aplicar o conhecimento acumulado em uma vida de trabalho à frente da TI. Outros muitos profissionais estão tentando atuar na mentoria de startups, até mesmo como investidores (normalmente nos estágios iniciais do negócio).

Já se vê, também, alguns CIOs procurando espaços adicionais na empresa, englobando responsabilidades em diretoria ou vice-presidência de novos negócios, diretoria do centro de serviços compartilhados, negócios digitais, experiência do cliente e mesmo planejamento estratégico”. São movimentos que representam boas perspectivas e caminhos alternativos para o crescimento profissional, mas que, ao mesmo tempo, mostram que a TI ainda não alcançou o real reconhecimento que deveria, por mais paradoxal que isso possa parecer nos tempos de hoje. É assunto para vários artigos sob diferentes perspectivas. E certamente voltarei a falar sobre isso.

É interessante perceber que os pensamentos extraídos dos bastidores confiáveis de um encontro fechado também conversam com insights do estudo Jornada CIO, que este ano está em sua terceira edição. Juntamente com um time de consultores da Lozinsky Consultoria, executivos de TI selecionados por nós irão integrar o comitê de análise da pesquisa, que se reunirá em breve. Espero compartilhar mais desse trabalho com você nos próximos artigos.

artigo assinado por

Sergio Lozinsky

Sócio-fundador e CEO
Com mais de 30 anos na TI, é fundador da Lozinsky Consultoria. Autor de livros e inúmeros artigos sobre estratégia empresarial e tecnologia.
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