Antes da disrupção, é preciso arrumar a casa – e a gestão de TI é fundamental no processo

Se não há uma estrutura sólida garantindo as atividades essenciais da organização, cabe ao CIO a tarefa de conduzir essa transformação antes mesmo de propor qualquer salto tecnológico

 

Por Fabio Ferreira

 

Para 25,6% dos líderes de TI ouvidos na primeira edição do estudo “Jornada do CIO: da realização pessoal à transformação de negócios”, inovações disruptivas e tecnologias digitais, como inteligência artificial e big data, tomam muito tempo e não agregam valor à empresa. Isso porque ainda há muito trabalho de base a ser feito, como melhoria de processos e ganho de eficiência.

Esse é um cenário comum entre algumas empresas brasileiras, mas, como sugerem os dados da pesquisa, elas não são maioria. De modo geral, as lideranças corporativas já entenderam que toda disrupção exige alterações na dinâmica organizacional, tais como adotar gestão de processos, aumentar o nível de governança da TI, elevar a qualidade dos serviços prestados, entre outras.

Ainda assim, o número de líderes que pensam que inovação toma muito tempo é expressivo. O caminho para a mudança dessa mentalidade passa por examinar as fundações da área de TI a fim de movê-la em direção a uma transformação digital efetiva. Para tanto, é necessário rever infraestrutura, cibersegurança, processos de TI e, ainda, a arquitetura de sistema.

Passo a passo

A infraestrutura e a segurança fazem parte da base de toda a TI, e devem ser priorizadas nessa reavaliação. No caso da primeira, indico desenvolver projetos que ampliem o uso da nuvem e diminuam a dependência da infra local. Para a segunda, é fundamental cumprir os requisitos de conformidade legal e garantir a segurança da informação em todos os aspectos que fazem parte do negócio.

Uma vez que essa base está sólida, é hora de aprimorar os processos de TI e Gerenciamento de Serviços de TI (GSTI) para proporcionar o gerenciamento de usuários e demandas. Em paralelo, ocorre a revisão da arquitetura de sistemas, primeiro para assegurar a continuidade do que já está funcionando e reduzir os gaps que ainda existem, e depois para dar um salto de evolução que permita liberar usuários importantes para os projetos de transformação que estão por vir.

Fator humano

Porém, esse passo a passo precisa considerar um aspecto humano importante na gestão de TI. É preciso entender o contexto que faz com que o CIO dessas empresas não perceba valor na disrupção ou sequer veja possibilidades de inovar. E a resposta pode estar em outro dado identificado na pesquisa: 11,3% dos líderes de TI, especialmente os com mais anos de atuação, sentem-se estagnados e desmotivados a seguir na carreira.

Os problemas desse profissional, portanto, precedem o momento atual. Ser líder de TI implica estar aberto à constante transformação e absorver o que o mercado tem de melhor a todo momento. Se esse profissional passou anos em uma empresa na qual não fez nada de significativo, ele teve um problema no desenvolvimento da própria carreira que não vai se resolver agora, em seus anos finais. É alguém que se acomodou e, com isso, fechou-se para o aprendizado.

 

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Esse comportamento tem grandes chances de criar uma resistência que desmotiva os funcionários e leva à perda de talentos. Afinal, um bom profissional de TI dificilmente terá vontade de trabalhar em um ambiente onde não ocorrem mudanças significativas. A TI vive de projetos: se não os faz, não trabalha com o novo e está fadada ao fracasso.

O déficit de conhecimento é algo que pode ser superado. O mercado de hoje oferece uma infinidade de parcerias às quais o CIO pode recorrer para buscar entendimentos e aprendizados que ele não absorveu. O que pode ser mais desafiador é desenvolver a capacidade de se posicionar estrategicamente na empresa, traduzindo suas percepções e demandas internamente a ponto de gerar nas demais lideranças do negócio o real entendimento sobre a transformações necessárias.

Para esse gestor que quer sair do comodismo, mas ainda encontra uma dinâmica antiquada e engessada, proponho duas reflexões. Cabe a ele se perguntar:

1- Mesmo que minha TI não seja a mais tecnológica, o que eu tenho disponível funciona bem?

2-  Tenho um dimensionamento claro do que quero buscar com a tecnologia?

Essas perguntas são pertinentes independentemente do porte ou da área de atuação da empresa, pois preparam o CIO para avaliar e, se for o caso, absorver as novidades que o futuro trará. Essa reflexão é indispensável para quem quer transformar a TI em parte indissociável do core business, e deve vir antes de qualquer tentativa de disrupção.

Aproveito para convidar você a responder ao questionário da segunda edição da “Jornada do CIO”, que estará disponível até o dia 21 de agosto. A pesquisa vai nos ajudar a entender o que mudou (e o que não pode mudar) na carreira das lideranças de TI brasileiras com a pandemia do coronavírus e como essas mudanças se relacionam com a transformação de negócios. Acesse, entenda e participe aqui

 

Leia mais:

Estudo “Jornada do CIO”: estará o líder de TI no time de articulação da retomada dos negócios?

O que o CIO espera de seu líder – e o que ele deveria esperar

artigo assinado por

Fabio Ferreira

CTO e sócio-consultor
Expert em infraestrutura tecnológica e sistemas. Tem 20 anos de experiência na indústria de tecnologia da informação e de serviços.
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