formação em TI, gestão de TI, Jornada CIO

O imediatismo da TI está comprometendo o desenvolvimento de líderes e equipes?

Cursos de curta duração são tendência na formação dos profissionais de tecnologia, revelam dados da Jornada CIO. Por outro lado, especializações longas têm sido menos procuradas. Isso é um problema ou solução?

*Por Ricardo Stucchi

Para construir meu ponto aqui, quero, primeiro, compartilhar alguns dados com você. Mais de 50% dos CIOs das grandes empresas do Brasil indicam que os cursos de curta duração – aqueles de poucos dias ou algumas semanas – estão entre as principais fontes de seu desenvolvimento profissional. É o que revela o estudo Jornada CIO, que analisa a presença da TI no negócio da perspectiva do seu principal líder. Ao mesmo tempo, a pesquisa vem sinalizando, nos últimos anos, que especializações de longa duração têm caído em importância para esses profissionais – na edição atual e recém-lançada do estudo, apenas 8% deles citaram essa alternativa como um dos caminhos mais importantes de aprendizagem. Esse dado era de 32% na edição anterior.

Será que essa amostra sugere que a visão imediatista e a cobrança por agilidade, tão comuns para quem trabalha com tecnologia, está afetando a aquisição de conhecimento e atualização? Esta foi uma hipótese discutida com atenção pelo comitê da Jornada CIO e que não esgota uma análise fundamental sobre formação e treinamento de profissionais de TI, especialmente os mais jovens.

Além da variedade de novas tecnologias e da necessidade de dominar assuntos diversos, um fator que explica a busca por cursos mais curtos é a pressão. O ambiente de trabalho da TI, não é segredo para ninguém, envolve a busca por soluções de curto prazo, o que leva o profissional a um ciclo – também de curto prazo – de ações e reações. As especializações rápidas ajudam a justificar, de forma imediata, o investimento em treinamento. Até porque, em geral, o valor investido em formações de mais fôlego para uma única pessoa pode cobrir cursos de menor duração para toda uma equipe. 

Mas, então, temos um problema se arrastando silenciosamente? Não necessariamente.

Como os profissionais de TI aprendem?

Há um lado animador nos dados revelados pela Jornada CIO: um bom profissional não para de estudar jamais.

Por um lado, a tecnologia está em constante atualização e não é possível saber profundamente sobre tudo. Consequentemente, buscar formações de curta duração é uma boa estratégia para que o profissional esteja minimamente familiarizado com os mais diversos temas – ainda mais se pensarmos que o conhecimento sempre se soma, se completa. O que aprendemos num curso de poucos dias estará inserido numa esfera mais ampla, de todas os aprendizados e experiências que a pessoa teve ao longo da carreira.

Cursos de curta duração fazem todo o sentido em um plano de desenvolvimento profissional, desde que não sejam os únicos meios. É por isso que o dado mais controverso da Jornada CIO não é o aumento da procura por cursos de curta duração, mas sim a queda, ano após ano, na busca por formações de mais profundidade.

Em geral, são essas vivências aprofundadas que fundamentam ações mais concretas e formam o alicerce de um profissional capaz e múltiplo. Quando o assunto é tecnologia, a melhor saída para lidar com pressões de curto prazo demanda mudanças robustas, com ações estruturantes de médio e longo prazo. O tipo de medida que exige planejamento, investimento e profissionais com fundamentos sólidos.

Na TI, muitas vezes questões complexas são tratadas de forma insuficiente. São erros básicos e que podem ser cometidos pela falta de instrução correta na hora da execução. É a cilada do discurso “pode errar, desde que a gente perceba o erro e faça a correção rapidamente”. 

Tentativa e erro é uma estratégia legítima – e útil – para explorar novas ideias, só que pode se tornar uma muleta por falta de instrução adequada, a visão de longo prazo não é dominada pelo profissional. Por isso, no treinamento de equipes, poupar formações mais longas para “otimizar” o orçamento é um risco. Equipes despreparadas geram justamente os problemas de orçamento que se pretendia evitar.

Essa é a realidade de diversos projetos de TI que não andam, ou não correspondem às expectativas: as equipes estão menos preparadas, e as que sabem o que fazer acabam acumulando mais e mais responsabilidades.

Nem tudo é mudança

Vamos parar por um momento e observar. A tecnologia está em constante transformação, isso não há o que discutir, mas se tomarmos distância da realidade e olharmos bem, há coisas que duram – e ainda bem que são assim. A gestão da tecnologia é uma delas. É óbvio que há evoluções e ajustes, mas o essencial, o lidar com pessoas e processos, permanece mais ou menos o mesmo.

Por mais que as novas tecnologias lancem desconhecimento numa velocidade cada vez maior, nenhuma empresa acompanha esse ritmo. Uma solução adotada hoje vai permanecer por, no mínimo, três a cinco anos na organização. Por isso, é preciso que as equipes tenham conhecimento aprofundado de assuntos essenciais para o negócio.  

Como muitas coisas na vida, equilíbrio e bom senso salvam. Para o CIO, contratar profissionais que já tragam na bagagem conhecimentos essenciais e de mais profundidade é uma saída para ter uma equipe completa. Balançar os investimentos entre cursos de curta e de longa duração é outra medida que pode gerar frutos. De uma forma ou de outra, o problema se dá não nas opções, mas nas escolhas.

artigo assinado por

Ricardo Stucchi

Sócio-consultor
Mais de 20 anos de atuação na área de TI. Trabalha intensamente para dar respostas a problemas complexos dos clientes.
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