Espelho, espelho meu: o que um bom benchmark pode fazer pelo negócio e a TI

Olhar para o outro é uma forma de descobrir o que temos de bom e também as oportunidades de melhorar, construindo um caminho prático e viável para a transformação

“O futuro das organizações – e nações – dependerá cada vez mais de sua capacidade de aprender coletivamente.”Peter Senge, professor do MIT e autor do livro “A Quinta Disciplina” 

Quando olhamos no espelho, julgamos nossa aparência a partir de referências próprias, construídas ao longo de nossas experiências com o mundo externo. Para uns, esses padrões são fontes de autoconfiança; para outros, riscos de autossabotagem. Mas, no melhor cenário, entendemos nossos pontos fortes e fracos e refletimos sobre como melhorar nossa atual versão. E fazer benchmark não é muito diferente disso.

Quando aplicamos essa ferramenta de negócios, primeiro olhamos para fora: o que outras empresas estão fazendo? Depois, vem a parte mais difícil: apagar maquiagens e máscaras, encarando o reflexo de si mesmo em busca do que precisa ser lapidado.

Benchmark é uma ferramenta de aferição de desempenho que mostra como a empresa está estruturada e compara seus índices com as referências mais relevantes de mercado. Para ser aplicada, depende, muitas vezes, da boa vontade de empresas mais maduras em abrir suas informações e, assim, construir e aprender coletivamente. O que ainda vejo é o benchmark como uma troca de favores entre conhecidos: eu sei quem você é e confio em você, então compartilho minha experiência. Há ainda a possibilidade de contratar uma consultoria para conduzir o processo de forma anônima, buscando referências gerais do mercado como base de comparação.

Não importa de que forma a ferramenta será aplicada, mas sim a disponibilidade – ou coragem – dos executivos em colocar o dedo em algumas feridas – às vezes, ainda não cicatrizadas. Isso porque o benchmark encontra pontos nos quais a empresa supera os concorrentes, mas evidencia, principalmente, o que precisa ser aprimorado, a fim de alcançar a maturidade das companhias mais relevantes do mercado. Fácil, não é. Mas se houver abertura à mudança, o benchmark tem potencial para impulsionar a transformação dos negócios e da própria TI. 

Há duas formas de colocar o conceito em prática:

O benchmark da TI pela TI

Permite analisar custos, estrutura, quadro de colaboradores e demais aspectos relevantes que definem a área. Como consultor, participei de diversos desses processos, e destaco um deles para efeito de exemplo: o de uma grande empresa do varejo, que elegeu uma concorrente direta como referência. O foco era entender como a TI estava organizada e propor melhorias a partir disso.

O primeiro ponto que notamos foi que a área de TI da outra empresa era bem menor, em comparação com a estrutura do varejista. Buscamos as causas e chegamos à conclusão: o concorrente havia optado por terceirizar o máximo possível da operação. Funcionou para eles, mas há outros pontos a serem avaliados para decidir pela terceirização ou não: os objetivos de negócio, os sistemas utilizados na empresa, o grau de terceirização da gestão de TI, a relação entre data center e adoção da nuvem, entre tantos outros. Aqui, temos uma comparação mais focada em critérios técnicos.

O benchmark do negócio

A outra forma é olhar, primeiro, para o negócio. Nela, a comparação envolve os pilares estratégicos da organização – ainda usando o exemplo do setor de varejo, redução de custos e maior controle do estoque são desafios recorrentes. A partir da construção dessa visão, a gestão de TI adquire subsídios para pensar em como viabilizar esses objetivos, atingindo os níveis de eficiência desejados. Nesse modelo, a TI assume papel de apoiadora estratégica dos negócios, propondo soluções que ajudam a empresa a resolver suas dores.

Nos dois formatos, o mais comum é se comparar com organizações semelhantes. Parece mais simples assim, mas o mercado já começa a perceber que há benefícios em aplicar a ferramenta para fazer a comparação, também, com empresas de setores diferentes, até mesmo startups. Os modelos inovadores de negócio podem ser grandes professores – tudo depende da forma como olhamos para eles.

E essa leitura objetiva do reflexo no espelho não se faz só de dentro de casa. Eventos, congressos, fóruns e espaços de discussão na internet são ótimos lugares para praticar o benchmark. Em tempos de transformações profundas de negócios, adotá-lo pode fazer a diferença no processo de tomada de decisão – mesmo que, no fim, você escolha persistir em seu plano original.

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artigo assinado por

Sergio Lozinsky

Sócio-fundador e CEO
Com mais de 30 anos na TI, é fundador da Lozinsky Consultoria. Autor de livros e inúmeros artigos sobre estratégia empresarial e tecnologia.
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