Por questões de produtividade e saúde, o home office tem se mostrado a melhor configuração para as equipes de TI, mas é preciso repensar a gestão para que esse modelo seja capaz de atingir os objetivos do negócio
Por Fabio Ferreira
Muitos negócios que já deram início à retomada no Brasil seguem com parte de seus times no formato remoto, o que deve se tornar uma tendência ao menos até que haja uma vacina contra o coronavírus. Diante dessa realidade, a gestão de TI precisa transformar desafios em oportunidades, posicionando a área como uma alavanca que favorece o crescimento dos negócios no pós-pandemia. Para tanto, porém, deve rever seus processos internos e sua própria estrutura.
O primeiro passo nesse sentido é decidir o formato das equipes. De modo geral, os times de TI estão divididos em duas grandes frentes: desenvolvimento (ou sistemas, como muitos preferem chamar) e infraestrutura. O primeiro time tem muito mais condições de atuar de forma 100% remota, enquanto o de infra pode se compartimentalizar, com uma grande porção atuando à distância e um contingente menor (entre 10% e 20% do pessoal) em caráter presencial.
Essa decisão depende do quão avançada está a arquitetura de TI. Empresas que já possuem data center como serviço (Hosting/Colocation/cloud) terão mais facilidade de alocar profissionais em casa, e podem partir para um modelo totalmente home office.
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O dilema que pesa na hora de determinar se a equipe assume uma configuração 100% remota reside no fator humano. Há pessoas que se adaptam muito bem ao home office, enquanto outras precisam de uma supervisão maior. É onde entra um trabalho importante do gestor de TI: propiciar o nivelamento desse time.
Mesmo com as particularidades de cada indivíduo, o aumento de produtividade da equipe é consequência natural do home office. Poupado de deslocamentos (de casa para o trabalho, do trabalho para o restaurante ou para uma reunião em local externo, etc), há mais disponibilidade de tempo para todos – até para aqueles que precisam de um acompanhamento mais próximo. Essa é uma vantagem inegável do trabalho a distância.
Porém, tudo isso requer segurança e uma sólida capacidade de comunicação entre os times. Desde que começou o isolamento social, vimos vários problemas de conexão por conta da estrutura de telecom nacional não estar preparada para esse volume de gente trabalhando em casa. O setor reagiu e melhorou a oferta, mas isso não exime as empresas de sua responsabilidade de garantir a qualidade do link e dos equipamentos utilizados pelo colaborador.
É responsabilidade da empresa, também, oferecer uma melhor ferramenta de workplace digital, bem como inserir uma série de componentes de segurança da informação e ferramentas de trabalho, como ambientes virtualizados de conferência. E se até poucos anos atrás o notebook era oferecido apenas para alguns ocupantes de cargos-chave, hoje a necessidade é completamente diferente.
Entretanto, muitos líderes – e não só os de TI – estão se esquecendo de que a gestão das ferramentas de trabalho cabe sempre à empresa. Há companhias que estão oferecendo aos colaboradores uma soma em dinheiro para que cada um compre seu notebook. Essa é uma decisão questionável, e que põe em risco a segurança de TI. Vai implicar em problemas gravíssimos de segurança, pois esse equipamento será do colaborador, e não da organização.
Insisto: a empresa deve fornecer todos os equipamentos, pois só assim consegue fazer o monitoramento da segurança de informação de forma que o colaborador entenda que deve garantir ali, os princípios mínimos que garantiria estando no local físico da empresa. Deve habilitar todas as proteções corporativas, tais como: (antivírus, VPN, etc), ferramentas de controle da informação (como DLP), enfim, assumir o ônus da evolução tecnológica do colaborador. Talvez aqueles com baixa posição hierárquica possam atuar com seu equipamento pessoal, já que têm um acesso muito restrito à informação. Mas um cargo mais estratégico, mesmo que de nível médio? Não vejo como fazer isso sem se expor a um risco que a empresa não pode – e nem deve – correr, a nosso ver.
E além de todos esses aspectos de gestão e técnicos, é fundamental olhar também para o lado humano e promover a educação para o trabalho remoto. O colaborador precisa se conscientizar de que não dá para levantar da cama e trabalhar de pijama. Ele deve entender que vai desempenhar o mesmo trabalho que desempenhava no escritório, apenas com uma disciplina diferente. Esse treinamento não pode ser negligenciado.
Diante do cenário atual, insistir no modelo antigo de equipes de TI majoritariamente presenciais não atende propósito algum, nem da empresa e nem do colaborador, salvo se uma arquitetura obsoleta não permitir essa composição.
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