*Por Ricardo Stucchi
Arquiteturas de TI mal resolvidas geram ineficiência para o negócio e provocam riscos de inconsistência de informações, além de uma complexidade desnecessária de gestão. E essa irresolução começa no baixo entendimento que se tem sobre os processos da organização – ou melhor, da sua cadeia de valor.
Uma arquitetura de TI deve partir de uma boa visão de quais macroprocessos entregam o valor que a empresa propõe, incluindo também os processos de apoio ligados diretamente a eles. A partir daí, é possível entender o que diferencia essa empresa de outras do seu segmento. Esse diferencial pode ser agilidade, flexibilidade, qualidade, até mesmo a capilaridade, entre outros.
Porém, essa tarefa, que deveria ser elementar, raramente é realizada – mais uma situação onde as empresas pecam em garantir o básico bem-feito, como escrevi recentemente em outro artigo, “Quando a empresa cresce, a TI amadurece. Ou não?”. O mais comum é termos uma organização de processos fragmentada por áreas, com cada uma delas se preocupando mais em obter soluções para suas necessidades, em vez de buscar aquelas que efetivamente entregarão valor para o negócio.
Por conta disso, áreas adquirem sistemas de forma isolada, que ficam rapidamente inadequados pois resolvem parcialmente o problema e sem integração com os demais sistemas, já que nunca foram pensados para trabalhar juntos. Quando situações desse tipo se acumulam, o que vemos não é uma arquitetura coesa e funcional, e sim vários “puxadinhos” de sistema – um amontoado de penduricalhos que resolvem necessidades pontuais, mas comprometem a entrega principal. E, em muitos casos, não é só uma “integraçãozinha” que resolve.
E por que a arquitetura de sistemas não é examinada com a devida atenção?
Uma das razões é que a mentalidade “ágil” que domina boa parte das organizações atuais tende a tratar a arquitetura de sistemas de forma simplista. Só que ela não é simples, e sim um organismo complexo e vivo: como tal, se não for cuidado, morre em poucos meses e quem perde (em resultado) é o negócio
É como um jardim: não adianta contratar o melhor paisagista para fazer um belo projeto se não houver uma jardinagem atenta e constante depois que o projeto é entregue. Cada novo sistema conectado a esse “jardim” precisa fazer sentido dentro dele. Espécies que não habitam o mesmo ecossistema vão entrar em conflito, e o resultado é um comprometimento severo de toda a paisagem.
Quanto mais a tecnologia avança, mais importante ela se torna – e, consequentemente, a arquitetura também ganha relevância. É necessário que haja governança sobre os sistemas. No passado, eles eram grandes monólitos, o que dificultava essa integração. Mas hoje o cenário é diferente: com um olhar minucioso para o que o mercado oferece, é possível entender qual a melhor solução, ou combinação de soluções, que seja capaz de apoiar o processo e garantir a entrega de valor.
Esse levantamento pode ser feito em poucos dias, quando os processos são mais elementares, ou levar semanas, quando são mais específicos. Ainda assim, é uma tarefa perfeitamente realizável: não é uma utopia nem uma iniciativa com custos proibitivos. Portanto, é possível ser diligente, em vez de se basear em achismos.
Avaliar a tecnologia das soluções também é fundamental. Se não for sólida, qualquer arquitetura vai “balançar”. Por isso, não basta que elas sejam apenas orientadas a processos; é preciso conhecer as soluções que estão disponíveis, saber avaliar a eventual necessidade de desenvolver aplicações específicas (lembra-se dos diferenciais?), olhar para o que foi adotado pela concorrência e pensar nas relações com os fornecedores.
Esse último ponto é especialmente importante, pois cada fornecedor é um novo contrato a administrar, mais uma tecnologia a demandar treinamento e ser operada, mais uma solução a ter suas atualizações monitoradas, entre outras demandas. O impacto que isso tem para o dia a dia da TI não pode ser subestimado.
À TI, aliás, cabe o papel de ser a grande apoiadora na escolha de sistemas, sejam eles de aquisição no mercado ou desenvolvidos dentro de casa. Mas ela não precisa, necessariamente, ser a centralizadora de decisões.
Seu papel é o de avaliar o que interessa às áreas do negócio, e também propor soluções. Trata-se mais de fazer a gestão do capital tecnológico da empresa, e não exatamente de ser a microgerenciadora de todas as operações de tecnologia.
A arquitetura de sistemas é um esforço coletivo em todas as suas etapas – concepção, execução e manutenção. E o resultado desse esforço conjunto é a “qualidade de vida” de quem habita nela – ou seja, a própria empresa.
Leia também:
Sua empresa consegue explicar a sua cadeia de valor?