Qual vai ser o próximo grande desafio da TI?

Periodicamente, os líderes de tecnologia se veem pressionados para correr atrás do hype do momento. É possível se preparar antecipadamente para essas ondas?

*Por Ricardo Stucchi

Há alguns anos, o maior desafio dos líderes de TI era a integração de sistemas, principalmente devido a legados obsoletos. Pouco depois, veio a migração para a nuvem. Agora, é como extrair todo o potencial da inteligência artificial.  E embora todos os indícios sejam de que a onda da IA ainda vai perdurar por um bom tempo, é bastante razoável pensar que logo mais teremos outra nova onda arrebentando com força nas praias tecnológicas. O que fazer diante de tantas mudanças?

A primeira resposta é “respirar e pensar”. Sempre tem uma “novidade” como o centro das atenções no cenário da tecnologia da informação, demandando grandes movimentações e investimentos. Isso é cíclico, e faz parte da área. A todo tempo, existe algum movimento mercadológico específico que praticamente força as grandes e médias empresas em direção a alguma coisa nova – vide os exemplos citados no primeiro parágrafo, e você certamente há de lembrar de outros, como os movimentos de terceirização, internalização, desenvolvimento próprio, etc. Grandes players do setor tecnológico constroem esses hypes à custa de muitos investimentos, e o fazem tão bem que quase sempre o objeto desse marketing se transforma em uma tendência de fato.

Esses hypes provocam no gestor de TI uma sensação de estar sempre defasado. Não chega a ser um “marketing do constrangimento”, mas certamente provoca ansiedade e insegurança em quem é responsável pelas decisões tecnológicas em uma empresa, principalmente porque o hype é assimilado por outros C-levels e pelo board, que passam a pressionar o CIO a adotar a novidade da vez. 

Recuar antes de avançar

Sempre existe uma inovação valiosa em meio a todo esse marketing. Para falar a verdade, toda tecnologia vai ter bom uso dentro de uma empresa, principalmente se estamos falando em grandes organizações. Essas ondas têm seu grau de exagero, mas essencialmente elas tratam de ferramentas bastante pertinentes.

Mas existe algo que precisa ser respondido antes de pensar na grande onda do futuro, ou mesmo na onda atual: sua TI está devidamente estruturada para abraçar novidades? Ou, como perguntei em um artigo recente: antes de falar em disrupção, que tal fazer o básico bem-feito?

O líder de TI e seu time  precisam dominar seu negócio antes de tudo. Tendo esse domínio, eles serão capazes de reagir adequadamente a qualquer tendência, risco ou provocação, venham elas de dentro ou de fora da organização. Essa reação está condicionada à capacidade de responder qual é o potencial real de aplicabilidade que a “inovação do dia” terá para a organização. Ou seja: antes de se preocupar com a futurologia, vale mais garantir uma fundação sólida no presente.

Uma vez que isso está assegurado, a TI se torna capaz de olhar para qualquer nova ferramenta e começar a propor algumas hipóteses. Veja que ainda nem estamos falando de realizar POCs (proof of concept): elas vêm depois de as hipóteses terem sido validadas. Ou, em outras palavras: antes de “provar o conceito”, é preciso defini-lo e então analisá-lo para descobrir se ele faz sentido no contexto daquela organização em particular. Uma lição de casa que várias grandes empresas estão fazendo com a inteligência artificial, diga-se de passagem.

Analisar, mas sem passividade

Entre parar tudo para abraçar o novo e ser resistente a mudanças, há vários meios-termos possíveis. O gestor de TI não pode olhar para alguma nova onda e pensar que é “só mais um hype”, da mesma forma que não é conveniente aderir entusiasmadamente ao que se apresenta como inovador. Vários pontos de equilíbrio podem ser encontrados entre esses extremos. 

Para atingi-los, porém, é necessário que a área esteja preparada para testar o novo – que, inclusive, pode se mostrar ineficaz ou inaplicável para sua organização. A TI precisa sempre andar para a frente, mas de forma criteriosa, o que inclui a capacidade de explicar porque hipóteses levantadas não se provaram.

O grande problema é que nem sempre os executivos de TI estão preparados para levar essa discussão aos seus conselhos. Mas a área não pode se limitar a resolver apenas os problemas que sempre resolveu: ela precisa planejar para estar à altura dos problemas que podem vir.  E para garantir que essa preparação aconteça, há alguns caminhos possíveis. São eles:

  1. Convencer a organização de que é necessário separar uma parte do orçamento para pesquisar novas tecnologias. Em tese, seria o caminho mais “fácil”, mas na prática é o menos provável de acontecer, pois empresas raramente destinam verba para o que terá retorno incerto;
  2. Propor que algum ganho operacional custeie as pesquisas e tentativas. Seria o clássico caso de cortar de um lado para ganhar no outro, como reduzir custos em determinada operação e destinar esses recursos para trabalhar com novas tecnologias. Essa prática tem um limite óbvio, pois nem sempre há “gordura” para tirar. Ainda assim, é um caminho viável – e bastante comum – em períodos menos críticos da TI;
  3. Convencer o negócio, e não a TI, a bancar o investimento. Quanto mais o líder de TI conhece seu negócio, melhor ele poderá demonstrar antecipadamente o potencial de ganho de uma tecnologia. E se ele conseguir demonstrar claramente esses benefícios, terá grandes chances de conseguir que os recursos necessários para trabalhar essas novas tecnologias não saiam do seu orçamento, e sim do negócio.

Esses caminhos são mais ou menos viáveis a depender da cultura de cada empresa. O fato é que, sim, é possível se antecipar às novas ondas tecnológicas, sejam elas quais forem, desde que a casa esteja arrumada, e que a atitude diante do novo não seja se deixar tomar pela ansiedade.

artigo assinado por

Ricardo Stucchi

Sócio-consultor
Mais de 20 anos de atuação na área de TI. Trabalha intensamente para dar respostas a problemas complexos dos clientes.
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